Mercado dá o recado de que não quer Haddad na Fazenda

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ROSANA HESSEL

O mercado financeiro voltou a dar um recado bem barulhento de que não quer, definitivamente, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad, o nome mais forte entre os integrantes do novo governo, para chefiar o Ministério da Fazenda no terceiro mandato do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que acabará com o Ministério da Economia e recriará a Fazenda e o Planejamento.

Lula vem testando o nome de Haddad e mandou o ex-ministro para um almoço com banqueiros em seu lugar, nesta sexta-feira (25/11), na capital paulista. E, na avaliação de alguns integrantes do atual governo, ele teria ficado mais forte para ser escolhido como chefe da Fazenda. Mas, apesa da alta de 2,75% na véspera, a Bolsa de Valores de São Paulo voltou a registrar perdas com a possibilidade de o principal cargo da equipe econômica ficar com candidato derrotado para o governo paulista.

O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, encerrou o pregão de hoje com queda de 2,55%, para 108.976 pontos. Já o dólar subiu 1,89% e fechou o dia cotado a R$ 5,410, refletindo o aumento da desconfiança dos investidores.

O Índice Bovespa (IBovespa), principal indicador da B3, encerrou o pregão de hoje com queda de 2,55%, para 108.976 pontos. Já o dólar subiu 1,89% e fechou o dia cotado a R$ 5,410, refletindo o aumento da desconfiança dos investidores com o rumo da economia do país.

No evento da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), do qual também participou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o fato de Haddad ter sido bastante paparicado pelos presentes e tratado com cordialidade levou os integrantes da equipe de transição disseram que ele “se saiu muito bem” e cogitaram um anúncio do nome do ex-candidato ao governo paulista o mais breve possível por Lula.  Havia, entre eles, uma expectativa de que o ex-ministro da Educação seria anunciado ainda hoje como o titular da Fazenda a partir de 2023.

O ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, aproveitou a confusão para detonar o nome de Haddad. “A Bolsa cai e o dólar sobe depois da fala de Haddad. Querem nomear o incêndio para comandar o corpo de bombeiros e esperam o quê?”, escreveu nas redes sociais.

Haddad está bastante próximo de Lula e, inclusive, o fato de o presidente eleito não revelar o nome do chefe da equipe econômica durante a campanha era visto como uma forma de que ele estava deixando o cargo vago caso o ex-ministro não conseguisse ser eleito governador do estado mais rico do país. Uma das falas que menos agradou do ex-ministro foi quando defendeu a taxação maior sobre o patrimônio.

Questão fiscal

Investidores estão muito preocupados com a questão fiscal, porque sabem que haverá um enorme rombo em 2023, dependendo do tamanho dos gastos fora da regra do teto que o novo governo pretende incorporar ao Orçamento do próximo ano. Apesar da melhora contábil das contas públicas neste ano, com a dívida abaixo de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) — graças, em grande parte, à inflação que ajudou a aumentar a arrecadação de tributos e às pedaladas de bilhões de reais em precatórios que o atual governo jogou para debaixo do tapete e pode virar uma bola de neve nos próximos anos –, em 2023, as perspectivas não são nada animadoras.

Ao participar de um almoço com banqueiros, Haddad ganhou pontos para ser escolhido como ministro da Lula, Haddad na avaliação de integrantes da equipe de transição. Mas, para o mercado financeiro, o fato de Haddad não demonstrar preocupação com a questão fiscal azedou o clima e fez a Bolsa cair. “Ele não disse nada demais, nem podia, porque ainda não é ministro”, disse uma fonte do novo governo.

Na avaliação de analistas do mercado e ex-integrantes de governos petistas, Haddad não tem estofo para ocupar o principal cargo da área econômica e transmitir credibilidade para investidores, de forma geral, como o ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que era capaz de anunciar um rombo fiscal de quase R$ 180 bilhões e a Bolsa subir no dia seguinte. Outro nome cotado para a Fazenda ventilado hoje foi o do presidente da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), Josué Gomes, filho do ex-vice-presidente dos dois primeiros mandatos de Lula, José de Alencar, também não é considerado a melhor saída para apagar o incêndio.

“Lula quer Haddad, mas o mercado não quer e o Lula vai ficando emparedado”, destacou uma fonte do mercado financeiro. Segundo o economista, diante do texto preliminar da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, também chamada de PEC do Precipício, que tenta colocar R$ 198 bilhões fora do limite da regra do teto no Orçamento de 2023, há dúvidas se Meirelles aceitaria mesmo ser ministro da Fazenda.

As informações agora são de que Lula só escolherá o nome do futuro ministro depois que conseguir aprovar a PEC. O ex-ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, que integra a equipe de transição chegou a cogitar uma desidratação para R$ 136 bilhões. Mas, no Congresso, outras duas PECs dos senadores Tasso Jereissati (PSDB-CE) e Alessandro Vieira (PSDB-SE), propõem menos: R$ 80 bilhões e R$ 70 bilhões, respectivamente.

Vicente Nunes