CBPILU100820151160PIB Foto: Kleber Sales/CB/D.A Press

MB Associados reduz de 0,4% para zero previsão para o PIB de 2022 e admite “viés de baixa”

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Diante da deterioração das perspectivas da economia devido às ameaças de descumprimento das regras fiscais e o enterro, praticamente inevitável, do teto de gastos — emenda constitucional que limita o aumento das despesas à inflação –, as perspectivas para 2022 não são nada animadoras. Após o Itaú Unibanco admitir que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2022 terá queda de 0,5%, a MB Associados também divulgou novas projeções nesta segunda-feira (25/10) e não descarta a possibilidade de PIB negativo no ano que vem com a atual conjuntura.

 

Sergio Vale, economista-chefe da MB, revisou de 0,4% para zero a previsão para a variação do PIB do ano que vem, mas reconhece que o viés é de baixa. “É possível que essa nova projeção vire queda no futuro sim”, admitiu. Segundo ele, que não descarta o risco de uma nova recessão técnica no país (quando há queda no PIB por dois trimestre consecutivos), o governo do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) “virou um zumbi” e caminha de forma “errática” ao sinalizar o abandono do teto de gastos para garantir aumento de despesas eleitoreiras em 2022. “Há risco adicional de queda do PIB não apenas no quarto trimestre de 2021, mas também no primeiro trimestre de 2022”, alertou. A consultoria não alterou a previsão de crescimento do PIB deste ano, de 4,7%.

 

Em quase três anos de governo, talvez não tenha havido uma semana tão ruim do ponto de vista de política econômica como a última. Ela entrará para a história como o desmonte de um regime fiscal construído a duras penas e com um longo aprendizado não apreendido de por que é importante manter a sinalização de um bom equilíbrio fiscal. Com os manuais de economia do governo Bolsonaro reescritos pelos parâmetros da época do governo Lula/Dilma, o que teremos no próximo ano é um cenário bastante difícil”, destacou Vale. “Mais de um ano de um governo errático como estamos vivendo trará piora contratada nos números gerais da economia e com essa análise apresentamos o que pode acontecer na economia nos próximos meses”, acrescentou.

 

Na avaliação do especialista, uma simples troca do ministro da Economia, Paulo Guedes, não altera esse cenário ruim para a economia.  Segundo ele, a variável chave de mudança, nesse caso, será a taxa básica de juros (Selic), que poderá ter um novo aumento nesta semana durante a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que ocorre amanhã e quarta-feira (27). “A política monetária funciona bem quando existe uma âncora fiscal. Com o presidente e o Congresso atuando em conjunto na direção do gasto e um ministro da Economia ausente, a âncora desaparece. O raciocínio vale mesmo se o ministro Paulo Guedes tivesse sido substituído, pois o novo faria o que o presidente e o Centrão determinassem”, avaliou Vale, que prevê alta de 1,5 ponto percentual na taxa básica, atualmente em 6,25% ao ano. 

 

“O problema explícito é o presidente e sua sanha eleitoral. Com isso, a resposta fiscal, que já não tinha, demandará do BC a necessária elevação mais agressiva da Selic. A próxima reunião deve ver uma alta de 150 pontos-base, seguida de outra de mesma magnitude, chegando ao final em 10,5% em fevereiro do próximo ano. Essa alta não necessariamente garantirá baixa na expectativa do IPCA, a qual mantemos em 4,7% em 2022, mas pode mitigar parte dos efeitos que virão via taxa de câmbio. Salvo uma mudança política radical, o câmbio mudou de patamar com a piora no regime fiscal. Para este ano, ajustamos o IPCA para 9,4%”, acrescentou Vale.

 

Pelas estimativas do economista, ainda está aberto as para onde vai o gasto público do ano que vem, mas ele demonstrou preocupação com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios que está em tramitação no Congresso. “Considerando a PEC dos Precatórios com furo do teto de quase R$ 50 bilhões e com a majoração em R$ 47 bilhões por conta da mudança do indexador do teto de gasto, o impacto no deficit público deverá ser considerável. Inicialmente, estimamos em torno de R$ 130 bilhões resultado primário ano que vem, que significa 1,5% em relação ao PIB”, afirmou. Com isso, Vale fez um alerta para o fato de a dívida pública em alta, podendo chegar a 88% do PIB se não houver mudança radical na trajetória do gasto público.

 

“As consequências de longo prazo do que aconteceu semana passada não serão triviais. Exigirá necessariamente respostas mais firmes de quem entrar em 2023 como presidente. Cada quebra de credibilidade exige que o passo seguinte, caso se queira corrigir a rota, deva ser ainda mais agressivo para resgatar a credibilidade perdida”, alertou. “Se não houver uma mudança concreta na eleição do ano que vem correremos o risco de anos seguidos de
crescimento abaixo do potencial. A velha brincadeira de que caminhamos para nos tornarmos Argentina começa a ficar perigosamente mais séria”, emendou.