MANOBRA NA META

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O Banco Central não esconde o desconforto com um movimento identificado dentro do governo e no mercado financeiro para que o Conselho Monetário Nacional (CMN) mude a meta de inflação de 2016 e defina um número menor que 4,5% para 2017. Esse movimento ganhou força nos últimos dias, diante da proximidade da reunião do CMN, marcada para a próxima quinta-feira.

São muitos os rumores espalhados pelas mesas de operações de bancos e corretoras, com números para todos os gostos. O mais forte deles aponta para uma meta ajustada de 5% ou 5,5% no ano que vem, ante os 4,5% atuais, o que livraria o BC de pesar ainda mais a mão sobre a taxa básica de juros (Selic), que está em 13,75% anuais. A justificativa é a de que derrubar a inflação deste ano, de quase 9%, à metade em 2016 exigirá um arrocho monetário enorme. A Selic teria que chegar a 16% ao ano.

Em compensação, dizem os que defendem essa tese, o CMN definiria, para 2017, uma meta menor, de 4% ou 4,25%, como forma de reforçar, junto aos agentes econômicos, o compromisso do governo de derrubar a carestia. Daí por diante, o movimento de redução da meta de inflação seria contínuo, para que, ao longo do tempo, atingisse 3%, nível no qual se estabilizaria. Esse índice é próximo ao observado em boa parte dos países emergentes.

Para técnicos do BC, reduzir a meta a ser perseguida pela autoridade monetária é um sonho antigo. Isso foi tentado na gestão de Henrique Meirelles à frente da instituição e, logo que tomou posse, Alexandre Tombini destacou a importância de o país ter inflação mais condizente com a observada no mundo desenvolvido. Mas o tema nunca avançou por resistência da presidente Dilma Rousseff. Na visão dela, uma meta muito baixa exigiria juros altos demais e, por consequência, crescimento medíocre — visão equivocada, ressalte-se.

Infelizmente, destacam técnicos do BC, esse não é o momento para se falar em mudança de meta inflacionária, sobretudo para 2016. Elevar o objetivo perseguido pela autoridade monetária, mesmo que de 4,5% para 5%, indicaria um sinal totalmente diferente do que vem pregando Tombini e subordinados. Com a credibilidade em baixa, a instituição tem insistido que levará o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para o centro da meta até o fim de 2016. E fará o que for necessário para que não haja frustração nessa empreitada.

Dentro do governo, a defesa de uma meta inflacionária maior para 2016 é visível entre os integrantes políticos, que não escondem a apreensão com os rumos da economia. O discurso é o de que as medidas adotadas para arrumar a casa foram fortes demais, seja na área fiscal, seja na monetária. O Produto Interno Bruto (PIB), em vez de mostrar reação, encolheu assustadoramente, e o desemprego não para de crescer. O melhor, portanto, seria dar um alívio momentâneo para que o BC parasse de subir os juros.

Os técnicos que rechaçam tais argumentos dizem que foi justamente a leniência com a inflação, o discurso de que um pouquinho mais de carestia não faria mal a ninguém, a razão principal de o país estar mergulhado hoje na recessão. No primeiro mandato, Dilma seguiu piamente essa receita, sem que ninguém lhe botasse os pés no chão. Chegou ao ponto de obrigar o BC a reduzir os juros para 7,25% ao ano, os menores da história, mesmo com o custo de vida apontando para cima. Resultado: a confiança de empresários e consumidores desabou.

Não será, portanto, com manobras na meta inflacionária para que o BC suba menos os juros, que o governo voltará a estimular a economia. Pelo contrário. A confiança que já está baixa ficará ainda menor. Está provado que recorrer a expedientes suspeitos não funciona. Só traz prejuízos. As pedaladas fiscais que o digam. As manobras nas contas públicas podem levar o país a um novo rebaixamento, agora pela agência Moody’s, e, se o Tribunal de Contas da União não recuar, haverá uma punição inédita ao governo.

Não custa lembrar que o CMN é composto pelo presidente do BC e pelos ministros da Fazenda, Joaquim Levy, e do Planejamento, Nelson Barbosa. Até agora, os três têm dado claras demonstrações de que estão empenhados em tocar a política econômica corretamente, sem truques. Tomara que não caiam no canto da sereia, pois, se a situação está ruim agora, ficará ainda pior.

Primeiro teste

» O Palácio do Planalto considerou positiva a reação ao novo modelo de aposentadoria apresentado ontem. A aposta é de que o Congresso não criará problemas para a aprovação da Medida Provisória 676.

Muito por fazer

» Para o mercado financeiro, o governo evitou o pior, o fim do fator previdenciário. Mas será preciso fazer muito mais para que a Previdência Social reduza o peso no rombo das contas públicas.

Muita calma

» Os investidores estrangeiros estão, aos poucos, reduzindo o pessimismo com o Brasil. Mas isso está longe de dizer que vão retomar, com força, o fluxo de recursos para o país.

EUA na frente

» O que realmente interessa para os investidores estrangeiros hoje é o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que está a caminho. Só quando esse movimento se concretizar voltarão a olhar para os países emergentes com apetite.

Sexta do desastre

» A sexta-feira será terrível para o governo, com a divulgação de três indicadores negativos: inflação em alta (IPCA-15), economia em queda (IBC-Br) e aumento das demissões (Caged). A semana não poderia fechar de pior forma.

Brasília, 08h42min