Maioria dos encontros de servidores com agentes do mercado financeiro não aparece nas agendas oficiais

Compartilhe

A relação entre agentes do mercado financeiro com servidores públicos, sobretudo do alto escalão, está mais intensa do que nunca, apesar da pandemia do novo coronavírus. Contudo, a maioria dos encontros entre eles não aparece nas agendas oficiais.

São almoços e jantares regados a muita bebida. Tudo pago por bancos, corretoras e gestoras de recursos. Objetivo: retirar desses servidores, inclusive ministros, informações cruciais para ampliar os lucros da instituições financeiras.

É natural que agentes de mercado queiram saber como o governo está conduzido determinados assuntos que podem afetar o funcionamento de instituições financeiras. Mas o assédio a integrantes da Esplanada dos Ministérios aumentou muito.

Não por acaso, bancos, corretoras e gestoras de recursos alugaram espaços amplos, casas e apartamentos, para receber informalmente integrantes do governo. Não há economia nesses encontros. Tudo o que é oferecido é de primeira linha, sem mesquinharia.

Um mundo paralelo na Esplanada

Além de obterem informações sobre projetos de seus interesses, bancos, corretoras e gestoras de recursos acabam apresentando sugestões de projetos que podem ser encaminhados pelo governo. Muita coisa, por sinal, é absorvida pelos técnicos da Esplanada dos Ministérios.

Ligações telefônicas, mensagens pelo WhatsApp, e-mails. Todos os instrumentos são usados para a comunicação entre servidores, ministros e agentes de mercado. Nada disso, assim como almoço e jantares, entra nas agendas oficiais. Há um mundo paralelo na Esplanada.

Na semana passada, a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata da reforma administrativa chegou às mãos de representantes do mercado financeiro um dia antes de ser entregue oficialmente ao Congresso Nacional. Esse vazamento, por sinal, foi tema de questionamento em um grupo de jornalistas ao Ministério da Economia, que optou pelo silêncio.

Na tentativa de limitar o acesso de agentes de mercado a seus diretores, o Banco Central baixou uma norma restringindo as conversas com cada instituição financeira a cada 45 dias, prazo entre as reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Nos demais órgãos do governo, as porteiras continuam abertas, sem controle.

Brasília, 21h03min

Vicente Nunes