Lula sentirá os ventos mais fortes da direita em Portugal

Publicado em Economia

A agenda do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em Portugal ainda não está fechada — ele estará em Lisboa entre 22 e 25 de abril —, mas seu auxiliares já foram alertados de que os ventos da direita estão soprando cada vez mais fortes no país europeu.

 

Pesquisa realizada a pedido do jornal Expresso e da rede de tevê SIC mostra que o governo socialista de António Costa, que foi eleito há um ano com maioria absoluta na Assembleia da República, vive seu pior momento em termos de popularidade, enquanto os três principais partidos de direita veem aumentar suas intenções de votos.

 

O levantamento aponta que 64% dos portugueses consideram a gestão do Partido Socialista ruim ou péssima, um salto de 11 pontos percentuais em relação a dezembro do ano passado. É o pior índice para um governo desde que a pesquisa começou a ser feita, em 2019.

 

Pela primeira vez, desde que está no governo — incluindo o período da tal geringonça —, António Costa aparece com avaliação negativa, em 4,6 pontos ante 5,4 de dezembro do ano passado. A escala vai de zero a 10, sendo que abaixo de cinco é reprovação por parte do eleitorado.

 

Crise na saúde e inflação

 

O descontentamento com o governo e com Costa começou a ficar evidente a partir do segundo semestre do ano passado, quando houve uma tempestade perfeita em Portugal. O sistema público de saúde colapsou, com o fechamento de emergência e mortes de grávidas e de bebês; a então ministra da Saúde, Marta Temido, caiu, puxando uma fila de demissões no alto escalão; os preços dos alimentos, da energia e dos aluguéis dispararam.

 

O repúdio ao governo, que tenta melhorar a imagem com um apoio financeiro às famílias e intervenção no mercado de habitação, é tamanho, que, se as eleições fossem hoje, os partidos de direita teriam a maioria dos votos, o que, em tese, os levariam ao poder por meio de uma composição.

 

O maior beneficiado nesse quadro preocupante foi o Chega, legenda de extrema-direita, cujo apoio popular passou de 9% para 13% entre dezembro do ano passado e março. Seu líder, o deputado André Ventura, aliado do ex-presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, foi o único político que viu a nota melhorar: de 3 para 3,4 pontos.

 

Pela pesquisa, o PS, de Costa, tem hoje 30% das intenções de votos (menos sete pontos percentuais), empatado com o PSD, que passou de 29% para 30%. O Iniciativa Liberal subiu de 2% para 4%. Já o Bloco de Esquerda caiu de 7% para 5%.

 

Nada indica uma reversão tão cedo na percepção negativa da população em relação ao governo, sentimento que afeta, inclusive, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Souza. Ele, cuja nota sempre rondou em torno dos 8 pontos, está, agora, com avaliação de 6,5.

 

O governo do Partido Socialista, com maioria absoluta, ainda tem três anos pela frente, ate às próximas eleições. Resta saber se, com as medidas anunciadas nos últimos dias em benefício da população mais pobre e da classe média, as críticas diminuirão. Pelo menos há uma boa notícia neste momento: a prévia de março aponta inflação em queda, para 7,4% ao ano.