Sem perspectivas de receberem salários, já que os responsáveis pelas empresas golpistas foram presos, os brasileiros, que atuavam em call centers, retiraram tudo o que puderam dos escritórios para vender e fazer dinheiro. Não sobrou quase nada, segundo policiais que estão a par da operação. “Levaram tudo, computadores, telefones, máquinas de café, armários, mesas”, disse um investigador.
O esquema usado pelos golpistas para treinar os brasileiros a iludirem investidores no Brasil se baseava no personagem Jordan Belfort, de Leonardo Di Caprio, no filme O Lobo de Wall Street. O lema era: “Pensem em suas famílias e esqueçam as vítimas”. Aqueles que conseguissem desviar mais dinheiro eram premiados. Muitos desses brasileiros apareciam nas redes sociais ostentando riqueza.
A operação, comandada pelo delegado Erick Sallum, resultou na prisão de quatro pessoas em Lisboa — os brasileiros Alan Cordeiro, 42 anos, Victoria Miranda, 24, e Eduardo Rodrigues, 29, e a portuguesa Maria da Conceição — e na detenção do chefe do esquema, o tcheco David Soukup, na Alemanha, e do comparsa dele, o angolano Daniel João Pluto, encarcerado na República Tcheca. Todos devem ser extraditados para o Brasil.
Para os golpes, o tcheco Soukup montou um escritório de fachada em Lisboa, registrado apenas como uma suposta empresa de publicidade. Mas a verdadeira operação consistia em oferecer falsos investimentos na Bolsa de Valores. A contratação de brasileiros para executarem os golpes era estratégica, pois era necessário falar fluentemente o português do Brasil, já que assediavam e buscavam vítimas apenas no país.
“Os brasileiros contratados para trabalhar nesse escritório tinham a função de ligar para o Brasil e oferecer opções de investimento, como operações day trade (compras e vendas no mesmo dia) e Forex (transações com câmbio). Eles usavam todo tipo de argumento para convencer as vítimas a ingressar no mercado de valores e fazer aplicações que gerariam altas rentabilidades com garantia”, explicou o delegado.
Enganadas, as vítimas passavam a investir nas ações indicadas pelos criminosos, mas, diferentemente do prometido, sempre perdiam tudo o que foi aplicado. Tomadas pelo desespero das perdas, eram incentivadas a fazer novos investimentos com a esperança de reverter os prejuízos. “Ocorre que os novos investimentos também geravam outras perdas, alimentando uma bola de neve. Depois de perderem todas suas economias e se endividarem ainda mais em bancos, quando as vítimas não tinham mais um centavo para aplicar, os criminosos cortavam os contatos telefônicos e elas ficavam sem a quem recorrer”, afirmou o delegado. Os golpes passaram de R$ 16 milhões.