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Lira e Campos Neto alinham discurso de garantia da responsabilidade fiscal

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Enquanto o ministro da Economia, Paulo Guedes, ficar mais enfraquecido devido às falas desastrosas, o mercado financeiro continua desconfiado com o governo e a impetuosidade do presidente Jair Bolsonaro, que insiste em criar crises institucionais, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, resolveram aparar as arestas e alinharam o discurso focando na responsabilidade fiscal e na melhora da narrativa.

 

Durante evento em São Paulo voltado para empresários e integrantes do mercado financeiro, Campos Neto e Lira buscaram, nesta sexta-feira (28/08),  tranquilizar os agentes financeiros. O objetivo foi amenizar a desconfiança crescente, tanto em relação ao compromisso fiscal em meio à antecipação clara do debate eleitoral que tem feito a Bolsa cair e o dólar subir junto com a piora nas perspectivas de inflação, que não para de subir e pode subir ainda mais neste ano e no próximo, devido à crise hídrica.

 

De acordo com o presidente do Banco Central,  há muito ruído no mercado sobre a questão fiscal. mas o “pano de fundo” é de melhora nos indicadores da economia e da dívida pública bruta, bem como do resultado primário do governo federal. Ele reforçou que, em 2022, o deficit primário será menor do que o deste ano, e, “em torno de 0,3% e de 0,4% do Produto Interno Bruto (PIB) após o saldo negativo de 2021 ficar em torno de 1,5% do PIB.

 

Apesar de admitir que existem riscos inflacionários  “não apenas no Brasil, mas globalmente” e que há queda nas projeções de crescimento do PIB de 2022, Campos Neto, disse que o governo precisa melhorar a comunicação para mostrar que há dados positivos na questão fiscal e no meio ambiente. Ele reforçou que a “parte fiscal está melhorando” e que o país “está fazendo reformas estruturantes”, citando a independência do Banco Central.

 

“O governo precisa melhorar a narrativa”, reconheceu o ministro. Campos Neto contou que tem conversado bastante com o novo ministro do Meio Ambiente, Joaquim Alvaro Pereira Leite, para alinhar o discurso para a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas de 2021, conhecida como COP26, que ocorrerá em novembro na Escócia. Segundo ele, Leite o convidou para participar do evento e conversar com os investidores e mostrar a agenda de sustentabilidade do BC que está sendo implementada.

 

“A COP26 está se aproximando e é importante que o Brasil passe uma mensagem de que o país é responsável. Precisamos consertar a narrativa nesse tema, que é muito relevante e afeta o fluxo de investimento”, disse o ministro. Ele, inclusive, defendeu uma “visão de futuro mais sustentável e inclusivo” em um cenário pós-pandemia, que está provocando uma “mudança estrutural das economias”.

 

“O país precisa de credibilidade no meio ambiente”, admitiu Campos Neto. Ele destacou que o país também necessita de soluções privadas para recuperar o crescimento sustentável e, principalmente, investimento externo e, para isso, é preciso melhorar a narrativa e mostrar que ” a coordenação dentro do governo é maior”, do que a imagem do país que passa lá fora.

 

 

Teto de gastos

 

 

O presidente da Câmara, por sua vez, disse que não pode deixar de ser otimista com o país e garantiu que Congresso vai fazer a sua parte, porque é ” reformador e está contribuindo e apaziguando” contra as crises e garantiu respeito às regras fiscais por parte do Legislativo.  “Não aventamos a possibilidade de romper o teto para dar auxílio emergencial ou Bolsa Família ampliado”, assegurou. 

 

Lira ainda defendeu a desindexação e a desvinculação das despesas, uma bandeira constante do ministro Paulo Guedes. Para Lira, só assim o governo conseguirá controlar os gastos e tornar o estado mais competitivo. Ele disse que vai encaminhas as pautas de reforma tributária e da reforma administrativa, porque  são importantes, mas reconheceu que, no caso da reforma tributária, é difícil avançar em meio à pandemia. 

 

“Costurar um acordo e negociar temas como a reforma tributária, por exemplo, virtualmente no Congresso, é uma matéria complicada”, afirmou Lira, no evento organizado pela Esfera Brasil e patrocinado pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) para debater as agendas econômica e política do segundo semestre.

 

Precatórios

 

Arthur Lira confirmou a negociação entre Congresso e o Supremo Tribunal Federal (STF) em buscar uma saída para a questão da explosão dos precatórios — dívida judicial da União — sem passar por uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para o adiamento e parcelamento em 10 anos proposta por Guedes para o pagamento dos R$ 89,1 bilhões previstos para 2022 e que, segundo ele, podem comprometer o teto de gastos, mas a solução é criticada e apontada como medida inconstitucional para abrir espaço no Orçamento para a ampliação do Bolsa Família.

 

“A melhor saída é que esta sendo negociada pelo poder Judiciário. Se depender do presidente Luiz Fux (do STF), vamos encontrar uma saída sequenciada que evitará uma contestação jurídica. Vamos burcas uma saída que atenda a todos e garanta uma saída jurídica, sem qualquer possibilidade de calote para os credores da União”, afirmou.