ROSANA HESSEL
As famílias brasileiras estão cada vez mais endividadas e pagam juros crescentes nos empréstimos, em meio à ameaça de uma terceira onda da pandemia da covid-19 — que voltou a lotar as Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) de vários estados — e acompanhando o novo ciclo de alta da taxa básica de juros (Selic), iniciado em março, atualmente, em 3,5% ao ano.
Entre março e abril de 2021, os juros totais no rotativo do cartão de crédito para a pessoa física passaram de 334,6% para 335,3% anuais, acumulando alta de 20,2 pontos percentuais, em 12 meses, e de 7,5 pontos, desde janeiro, conforme dados divulgados nesta sexta-feira (28/05) pelo Banco Central na nota mensal de estatísticas monetárias e de crédito apresentada pelo chefe do Departamento de Estatísticas do BC, Fernando Rocha.
Conforme os dados da autoridade monetária, as taxas médias de juros do cheque especial para pessoa física, uma das modalidades mais fáceis e mais caras no mercado financeiro, para pessoa física aumentaram entre março e abril, passando de 122,3% para 124,5% ao ano. No ano, o aumento foi de 9,8 pontos percentuais, e, em 12 meses, de 4,9 pontos percentuais.
A taxa média para o crédito pessoal para pessoa física nos bancos privados passou de 33,7% ao ano para 34,5% anuais, com alta de 4,2 pontos percentuais no ano. O destaque de alta em 2021 ficou com os empréstimos não-consignados, que saltaram 13,9 pontos percentuais de janeiro a abril, somando 88,3% anuais, a maior desde março de 2020, de 94,7%. No mês anterior, estava em 87,3% ao ano.
O crédito consignado, puxado pelos empréstimos de beneficiários do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), que representa o maior volume dos financiamentos para pessoa física, com crescimento e 1,8% no saldo do mês, com alta de 2,9% para os aposentados. A taxa desse tipo de empréstimo consignado também ficou mais cara, passando de 21,2% para 21,9% entre março e abril. O crédito consignado para servidores, de 16,3% para 16,8%, no mesmo período.
Já o custo anual dos financiamentos para aquisição de veículos subiu de 20,6% para 21,3% entre março e abril, de acordo com os dados do relatório. “A aquisição de veículos atingiu o valor recorde em saldo e permaneceu em crescimento”, destacou Rocha.
O técnico reconheceu que houve um ligeiro aumento nas taxas médias de todo o sistema financeiro, medido pelo Indicador de Custo de Crédito (ICC) em abril, mas, “em 12 meses, esse indicador permanece em trajetória de redução”, ficando em 17,2% ao ano no mês de abril. Contudo, o custo médio das concessões realizadas no mês ficaram acima desse patamar, em pouco mais de 20% ao mês. Ele destacou que a inadimplência para a pessoa física está estável em 2,9% desde o fim de 2020, apesar de a taxa média ter avançado de 2,1% para 2,2% entre março e abril.
Estatísticas monetárias e de crédito
Conforme os dados do BC, o volume do crédito ampliado ao setor não financeiro apresentou redução de 1,5% no mês de abril em relação ao mês anterior, para R$ 12,3 trilhões (160% do Produto Interno Bruto – PIB), refletindo as quedas de 4,6%, nos empréstimos da dívida externa (impulsionada pela apreciação cambial de 5,16% no mês), e de 2,9% nos títulos públicos.
Na comparação com abril de 2020, o crédito ampliado cresceu 14,5%, resultado da elevação da carteira de empréstimos do Sistema Financeiro Nacional (SFN) e de títulos públicos, de acordo com o BC. “De fato, além do setor público, houve aumento dos empréstimos do SFN e que representam mais da metade do PIB, com destaque para o aumento do endividamento das famílias”, destacou Rocha.
O crédito ampliado às empresas encolheu 1,1% no mês, para R$ 4,3 trilhões (56,2% do PIB), refletindo, principalmente, o efeito da valorização da desvalorização do real frente ao dólar, que ajudou a reduzir a dívida externa em 4,5% no mês. Rocha também admitiu que as incertezas no mercado doméstico também tem ajudado na retração dos empréstimos de empresas, principalmente, do capital de giro de curto prazo.
No acumulado em 12 meses, houve crescimento de 7,7%, puxado pelos empréstimos do sistema financeiro, que registram aumento de 16,3% na carteira total no período.
O estoque do crédito ampliado às famílias registrou crescimento de 1% no mês, para R$ 2,5 trilhões, o equivalente a 33,1% do PIB. No acumulado em 12 meses, o endividamento das famílias via empréstimos no SFN cresceu 13,8%, conforme dados do BC. Nos dados dessazonalizados, o aumento das concessões de crédito às pessoas físicas foi de 10,2%.