Itamaraty realiza repatriação recorde de 40 mil brasileiros em 2020

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ROSANA HESSEL

O Ministério das Relações Exteriores (MRE) realizou a repatriação de 40 mil brasileiros em 2020, volume recorde e muito acima da média anual, de 100 pessoas, de acordo com levantamento feito pelo Sindicato Nacional dos Servidores do Ministério das Relações Exteriores (Sinditamaraty). A entidade usou os dados computados pela pasta até julho.

Esse contingente acima de qualquer outro já registrado, segundo a entidade, foi repatriado a partir de 107 países, durante o auge da pandemia. Em grande parte, essas pessoas estavam morando lá fora por muitos anos e decidiram retornar para o Brasil em meio à recessão global e o fechamento dos aeroportos. Uma boa parcela também inclui turistas que acabaram não conseguindo voltar e precisaram de ajuda do Itamaraty para hospedagem e a alimentação durante a espera. O pessoal de chancelaria, por exemplo, mobilizou igrejas e albergues para essa finalidade onde não havia hotéis abertos.

Uma das primeiras repatriações ocorreu no fim de fevereiro, quando um grupo de 34 pessoas desembarcava na base aérea de Anápolis, Goiás, vindo da região de Hubai, na China, epicentro da pandemia da covid-19 e que estava em lockdown desde 23 de janeiro. O governo chinês registrou o primeiro caso da nova doença em novembro de 2019, mas apenas em 31 de dezembro decidiu comunicar ao mundo o que estava acontecendo.

Naquele momento, esperava-se no MRE que a repatriação fosse uma excepcionalidade. Mas, com o número crescente de brasileiros no exterior pedindo ajuda para voltar ao país, o MRE teve que realizar várias ações coordenadas, acionando a Força Aérea Brasileira (FAB) e comprando passagens em voos comerciais de empresas que ainda operavam durante a pandemia. Além disso, a pasta fretou aviões e ônibus, nos casos de pedidos vindos da América do Sul. O órgão também precisou viabilizar, junto aos diferentes países, a liberação de voos comerciais impedidos de acontecer.

De acordo com o sindicato, como o orçamento do Itamaraty é um dos menores da Esplanada, a repatriação foi realizada por meio dos aportes obtidos pelo orçamento de guerra no combate aos efeitos econômicos da pandemia de covid-19. O custo operacional chegou R$ 50 milhões desse orçamento emergencial, segundo a entidade. Ela informou ainda que a desvalorização do real frente ao dólar colaborou para que os recursos se esgotassem rapidamente.

A maioria dos servidores do MRE, no Brasil e no mundo, trabalhou em suas residências, sem acesso aos sistemas das embaixadas e demais postos, a telefones e com recursos próprios, segundo a entidade. “Na época foi uma loucura, um momento complicado para os servidores, porque não houve tempo para nos prepararmos”, informou o presidente do Sinditamaraty, João Marcelo Melo, em um comunicado. Além do trabalho remoto e, em um primeiro momento, sem a estrutura necessária, os servidores do MRE também passaram por dificuldades por conta do número reduzido de pessoas.

Nos últimos 10 anos, mais de 600 vagas ficaram em aberto devido à falta de concursos para recompor o quadro de oficiais de chancelaria que se aposentam, de acordo com o Sinditamaraty.

Vicente Nunes