IRMÃOS SIAMESES

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PT e PMDB, que enfrentam um divórcio litigioso, se uniram em 2003 para governar o país. O discurso da vitória nas urnas comoveu a todos: “A esperança venceu o medo”. Por trás desse marketing emocional, que fisgou corações e mentes, os dois partidos selaram um pacto de loteamento, cujos resultados são assombrosos. Juntos, comandaram o maior esquema de corrupção de que se tem notícia no Brasil.

 

Levando-se em consideração apenas as três maiores empresas estatais, pode-se ter uma ideia do quanto essa parceria custou caro para o país. Petrobras, Eletrobras e Correios, que foram comandadas por pessoas indicadas por caciques dos dois partidos, acumularam, somente em 2015, prejuízos de R$ 50 bilhões. Boa parte dessas perdas é oriunda de negócios ruins, que tiveram como objetivo único desviar dinheiro público.

 

A união entre PT e PMDB nas estatais se estendeu aos fundos de pensão dos empregados dessas empresas. A expectativa é de que o Petros, da Petrobras, tenha encerrado o ano passado com rombo de quase R$ 20 bilhões. No Postalis, dos Correios, o buraco acumulado encosta nos R$ 6 bilhões e, para cobrir esse deficit, os carteiros terão de pagar taxas extras por 23 anos. Na Funcef, da Caixa Econômica Federal, faltam R$ 13,2 bilhões para bancar a aposentadoria dos associados.

 

Esses números são a parte visível do que o PT e o PMDB fizeram ao longo de mais de 13 anos de casamento. Enquanto foram convenientes um para o outro, ratearam tudo, sobretudo os malfeitos. Agora, separados, tentam transferir culpas. Difundem discursos como se não tivessem caminhado, lado a lado, para levar o Brasil ao desastre. PT e PMDB têm a mesma cara, e ela está simbolizada pela corrupção, pela inflação alta, pela recessão e pelo desemprego.

 

Política do atraso

 

Não por acaso, Luís Roberto Barroso, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) explicita seu espanto ao falar do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Qualquer que seja a alternativa de poder colocada — PT, de um lado, PMDB, de outro — o que se vê é a continuação de tudo de ruim que está aí e que é rejeitado pela grande maioria da população. Para Barroso, a falta de alternativa na política é assustadora.

 

O ministro reconhece que o processo de impedimento de Dilma é legítimo e cabe ao Congresso ratificá-lo ou não, respeitando-se a Constituição. Contudo, o PMDB do vice-presidente, Michel Temer, que se lançou como opção para comandar o Brasil até 2018, representa o atraso. “Quando o jornal exibia que o PMDB desembarcou do governo e mostrava as pessoas que erguiam as mãos, eu olhei e pensei: Meu Deus do céu! Essa é a nossa alternativa de poder. Eu não vou fulanizar, mas quem viu a foto sabe do que estou falando”, afirmou.

 

Ele está coberto de razão. Ao mesmo tempo em que se defende a saída de Dilma, não se pode admitir que o país seja entregue a pessoas como Temer, os senadores Romero Jucá e Valdir Raupp e o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, acusado de ter contas secretas na Suíça abastecidas com dinheiro desviado da Petrobras. Isso mostra o quanto um sistema político podre prevaleceu no Brasil e, pior, inviabilizou o surgimento de forças que pudessem promover uma revolução baseada na transparência e no real compromisso com os interesses da população.

 

Balcão de negócios

 

A desesperança aumenta quando o país inteiro se depara com o balcão de negócios aberto pelo governo para tentar se manter no poder. O PT de Dilma e Lula está oferecendo as mesmas condições que prevaleciam nos acordos fechados com o PMDB para atrair partidos que possam enterrar o impeachment da presidente. Quer dizer: o loteamento da máquina pública continuará com todas as suas mazelas. Só serão mudados os atores.

 

Se realmente quisesse se diferenciar em relação ao PMDB, Dilma deveria montar um governo de coalizão com forças que acreditam nas suas boas intenções. Mas, não. Ela se igualou no que há de pior na política ao recorrer ao fisiologismo. Esse tipo de comportamento só comprova que os eleitores são o que menos importa nas negociatas. Cercando-se de pessoas interessadas em apenas tirar proveito do que a máquina pública pode oferecer, Dilma só sentencia seu destino na história. Fique ou saia do governo, ela jamais se livrará da pecha de ter barganhado o país por um projeto de poder.

 

Brasília, 00h58min