Hora de planejar as férias

Publicado em Economia

POR MARLLA SABINO

 

As férias de fim de ano ainda estão longe, mas quem quer colocar o pé na estrada deve começar a preparar o bolso imediatamente. Os preços das passagens aéreas e dos hotéis têm subido sem parar. Um bilhete de ida e volta de Brasília para Salvador no ano-novo, por exemplo, já está sendo ofertado por quase R$ 5 mil. Se a opção for passar a virada de 2016 para 2017 em Miami, nos Estados Unidos, o viajante terá que gastar até R$ 10 mil apenas com o avião. Trata-se de um prazer para poucos. Por isso, receitam os especialistas, o melhor é se programar logo e, sobretudo, organizar o orçamento para que a diversão não se transforme em dor de cabeça mais à frente.

 

Os especialistas são enfáticos: antes de pensar em arrumar as malas, saiba qual é a situação financeira da família. Veja se há pendências a serem pagas e se algum dinheiro foi poupado nos últimos meses. Com tudo isso na ponta do lápis, decida para onde quer viajar e quanto tempo durará o passeio. Se as férias forem em família, é importante que o local escolhido seja um consenso entre todos. Com essas informações já é possível levantar os preços de tudo e saber, em média, quanto é necessário para a viagem. “É importante decidir qual meio de transporte será usado até o destino e calcular os gastos com alimentação, passeios e hospedagem”, explica o educador financeiro Reinaldo Domingos.

 

Com o orçamento em mãos, aproveite os meses que ainda faltam para o passeio para poupar. Esse dinheiro extra certamente será importante para cobrir boa parte das despesas. Isso exigirá um aperto no orçamento. Portanto, analise os gastos mensais, tente cortar algumas despesas, principalmente com supérfluos. “É importante definir as regras do jogo antes de sair de casa. Saber quanto se tem de recursos disponíveis, quanto será preciso para a viagem e definir um limite para os gastos”, destaca Domingos.

 

Antecipe-se

 

Procurar as passagens aéreas com antecedência é um bom caminho para deixar o passeio mais acessível. Que o diga a veterinária Rafaella Albuquerque, 31 anos. Ela decidiu que, neste ano, passaria as festas de fim de ano no Nordeste. Em abril, ela comprou as passagens aéreas em uma promoção por R$ 230 ida e volta. “Sabia que a passagem seria o mais caro. Então, preferi começar por elas. E deu certo. No ano passado, deixei para a última hora e paguei o triplo”, relembra.

 

A educadora financeira Cíntia Sena explica que, como ainda faltam alguns meses para o fim do ano, é possível aproveitar esse período para comprar os bilhetes aéreos em parcelas e encontrar um preço mais em conta. “Como todo mundo quer viajar nessa época, a procura fica maior que a demanda. Quanto antes reservar a passagem e o hotel, melhor”, ressalta. Ela indica ainda pesquisar quanto custarão, em média, os serviços no local escolhido. Isso vale para passeios e restaurantes. Além disso, use a tecnologia para comparar promoções de hotéis e melhores opções de pontos turísticos.

 

Rafaella percebeu que, mesmo usando aplicativos que comparam preços de hospedagem, só conseguiria um preço melhor se ligasse para o hotel de sua escolha e negociasse com o gerente. Foi o que fez. A economia lhe permitirá cobrir parte das despesas com alimentação e locomoção nos passeios. Não é só. “Fiz uma poupança só para a viagem. Todos os meses, faço um depósito. Estou pagando passagens e hotel por fora”, conta.

 

De olho no comportamento da veterinária, a educadora financeira Cíntia recomenda fixar um limite diário  para os gastos por pessoa que viajará. “Assim, evita-se o risco de faltar dinheiro nos últimos dias de viagem e tudo sairá como o planejado”, diz. Reinaldo Domingos vai além. E aconselha que os viajantes sempre tenham uma reserva técnica para casos de emergência ou imprevistos. O ideal é que essa poupança corresponda a 40% do total previsto para a viagem. “Isso dará segurança em caso de gastos extras”, argumenta.

 

O cartão de crédito também pode ser um bom aliado para esses momentos, mas é necessário cautela para não transformar isso em uma dívida. “O cartão é uma ótima ferramenta, se a pessoa sabe usá-lo bem. Quer dizer: paga a fatura integral na data de vencimento. Os juros do crédito rotativo do cartão estão, em média, em 470% ao ano”, alerta Cíntia. A especialista recomenda ainda analisar a situação em que o dinheiro de plástico será usado. Talvez, pagar a compra à vista pode resultar em um bom desconto.

 

Cuidados no exterior

 

Para quem pretende viajar nas férias de fim de ano para o exterior, os cuidados devem ser ainda maiores. Mesmo aqueles que acham que o passeio caberá no bolso, o melhor é se programar com antecedência. Há dois meses, a professora, Poliana Faria, 30 anos, resolveu que realizaria um grande sonho: conhecer Cuba. Decidida a embarcar nessa aventura com os amigos, comprou as passagens antecipadamente por R$ 3 mil, em 10 parcelas. “Essa é minha única dívida. Pretendo usar o dinheiro das férias e do décimo-terceiro salário para outras despesas”, diz.

 

Agora, o desafio é decidir o local em que ficará hospedada, mas está procurando uma opção mais barata. “Tudo indica que vou ficar em um hostel e dividir o quarto com colegas. Esse é o melhor jeito de economizar”, afirma Poliana. Além dessas preocupações, é importante lembrar que os preços da moeda que se levará para a viagem — dólar ou euro — variam muito. A dica, portanto, é começar a compra da divisa agora e não esquecer de habilitar o cartão de crédito e de débito para usar quando necessário. “Não tente adivinhar se o preço do dólar vai subir ou descer. Vá comprando dentro das possibilidades”, alerta o orientador financeiro e idealizador do Dinheirama.com, Conrado Navarro.

 

Ele explica que o viajante deve ir às casas de câmbio todos os meses para comprar a moeda usada no país de destino. “Trocar reais por euro ou dólar aos poucos permite que a pessoa faça um preço médio mais interessante”, sugere Navarro. Na opinião dele, em viagens internacionais, o melhor é levar o dinheiro em espécie. O cartão de crédito não deve ser a opção principal. “O cartão só deve ser usado em extrema urgência”, afirma. O grande risco é que, no cartão de crédito, não há como controlar a variação cambial. “A cotação do dólar ou do euro usada no cartão é a do dia do fechamento da fatura, podendo ser atualizada no mês seguinte”, assinala.

 

Não por acaso, Poliana planeja levar a maior parte do dinheiro em mãos. “Só usarei o cartão de crédito em caso de algum imprevisto ou se as despesas extrapolarem o que programei”, frisa. Os cartões prepagos podem ser uma boa opção, mesmo que o imposto cobrado seja o mesmo, de 6,38% sobre o total.

 

Planejar as férias pode ser muito divertido, mas é importante se programar para as despesas no retorno. Lembre-se que haverá contas a pagar. O início do ano é marcado por uma série de despesas extras, como IPTU, IPVA e escolas. “Lembre-se que janeiro tem impostos e material escolar, para quem tem filhos. Além disso, no retorno das férias não tem salário. Reserve, então, uma parte do décimo-terceiro para voltar das férias feliz e não se preocupar com dívidas”, orienta a educadora financeira Cíntia Sena.

 

Brasília, 15h15min