“Guerra ideológica” é o grande obstáculo para Bolsonaro

Publicado em Economia

RODOLFO COSTA

O presidente Jair Bolsonaro precisa decidir urgentemente se governará para o país ou para os eleitores da direita brasileira que o elegeu. A insistência do governo na “guerra ideológica” é, para congressistas, a principal entrave para o Palácio do Planalto chegar a um bom relacionamento com o Parlamento. O clima no Legislativo é de que ainda há tempo para o Executivo mudar o discurso e melhorar o diálogo. Mas será bom se apressar, pois a economia e as agendas da educação, saúde e segurança pública continuam estagnadas.

 

A impressão de deputados é de que o governo está mais preocupado em combater a pauta da esquerda do que em governar. No Plenário, comissões e demais corredores da Câmara, reconhecem que governos anteriores contingenciaram recursos em pastas importantes, como na própria educação. A leitura de parlamentares é que a diferença está na sinalização em como essas gestões se portaram diante dos “cortes”. “Não é o que o governo faz, mas a forma como se faz”, criticou o líder do PMN na Casa, Eduardo Braide (MA), ao Blog.

 

Enquanto outros governos anunciaram cortes na educação em clima de “velório”, a percepção atual é de que o governo Bolsonaro lida com a medida em “clima de carnaval e balbúrdia”, acusando de estar combatendo uma ideologia de esquerda nas universidades, avalia Braide. “O que atrapalha no governo é a ‘guerra ideológica’. E o brasileiro não quer isso. A sociedade quer bons professores, escolas e universidades com boa estrutura e educação”, ponderou o parlamentar.

 

A constante provocação de alguns ministros do governo e do próprio Bolsonaro é equivocada e mantém o fogo cruzado entre Planalto e Congresso, analisa Braide. Para ele governo ainda pode mudar o discurso e melhorar o relacionamento com o Congresso com a supressão da ideologia direitista do governo. “Acho que dá tempo de mudar e melhorar. Há no Congresso a vontade que o país dê certo. As pontes do Parlamento com o Planalto não estão queimadas, mas a situação precisa ser equacionada”, ressaltou.

 

A avaliação é corroborada pelo presidente da Comissão de Educação da Câmara, deputado Pedro Cunha Lima (PSDB-PA). O parlamentar defende a discussão de temas como a instituição de um Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) permanente, e não a insistência na “guerra ideológica”. “Nós queremos buscar soluções e combater a desigualdade. Não queremos ver instaurada uma ‘guerra ideológica’ no MEC”, criticou.