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Guedes prepara decreto de reestruturação e pretende concluir “em breve”, dizem fontes

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O ministro da Economia, Paulo Guedes, corre contra o tempo para elaborar com sua equipe um decreto para reestruturar a pasta, criando nova secretaria e novos cargos no exterior, a fim de evitar ruídos de uma nova debandada. A ideia é publicar o decreto com as mudanças em, “no máximo, três semanas”, segundo uma fonte da pasta e tentar melhorar a imagem no exterior. A movimentação dos peões no tabuleiro está em curso e a ideia é que o decreto saia “em breve”, contou outra fonte do governo.

 

Dentre as medidas previstas no novo regramento estará incluída a criação de uma secretaria especial que será comandada pelo secretário de Política Econômica da Economia, Adolfo Sachsida, um dos poucos integrantes da equipe de transição que permanece firme na equipe econômica. Contudo, devido ao desprestígio de Guedes no mercado, as soluções estão sendo caseiras.

 

A princípio, o novo órgão que será chefiado por Sachisida deverá se chamar de Secretaria Especial de Estudos Econômicos (S3E) e vai reunir a estrutura da SPE e terá sob o seu chapéu o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Instituto Brasileiro de Pesquisa Econômica (Ipea). Anteriormente, essa nova secretaria estava sendo cogitada para ser comandada pelo economista Aloísio Araújo, que foi assessor de Guedes, mas ele declinou o convite. A expectativa de técnicos da pasta é de que a nova secretaria especial “não tenha aumento de custos”.

 

As mudanças na equipe econômica estão em curso e incluem as saídas do secretário especial de Produtividade e Competitividade (Sepec), Carlos Da Costa — o último integrante do primeiro escalão da pasta que está no cargo desde janeiro de 2019 — , e do secretário especial da Receita Federal, José Tostes Neto, em direção ao exterior estão confirmadas internamente e não há mais volta.

 

A saída de Carlos Da Costa era esperada internamente desde o ano passado, quando o nome dele foi cogitado para o BID Invest,  braço de investimento do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), mas não vingou. Agora, o economista deverá chefiar o Escritório de Representação do Ministério da Economia em Washington, que está sendo criado pela pasta. Esse novo posto precisará ser incluído nesse decreto e ter um orçamento correspondente, algo que deve ser feito concomitante com a aprovação do Orçamento de 2022 pelo Congresso Nacional.

 

A nomeação para a nova posição, depois de criada, será do presidente da República.  “A ideia é deslocar orçamento de pessoal do Ministério da Economia, reduzindo cargos aqui para passar para lá. Sem impacto orçamentário”, de acordo com uma fonte da pasta.

 

De acordo com fontes da pasta, o ministro queria melhorar a imagem do Brasil no exterior criando um cargo para uma espécie de “Special Representative ou Special Envoy”. A ideia era que um dos mentores de Paulo Guedes, o economista Carlos Langoni, fosse o representante da pasta lá fora. Mas, com a morte de Langoni, em junho deste ano, e o crescimento da importância de ter alguém sênior que represente o Ministério da Economia e, por conta disso, a decisão do chefe da equipe econômica foi de criar um Escritório. Da Costa terá como missão melhorar a imagem do Brasil no exterior e atrair investimentos estrangeiros para o país.

 

O substituto de Da Costa será a chefe da assessoria especial do gabinete do ministro da Economia, Daniella Marques Consentino, última integrante da equipe inicial da Economia a permanecer na pasta. Ela é o braço direito de Guedes, e, para a vaga dela, que também fazia a articulação política após Esteves Colnago assumir a secretaria especial do Tesouro e Orçamento, estava sendo cogitada o ex-deputado Alexandre Baldy, que foi secretário de Transportes Metropolitanos de São Paulo. 

 

Apesar de ser um nome muito próximo do ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, Baldy foi vetado por Bolsonaro porque o ex-secretário trabalhou com o governador de São Paulo, João Dória, candidato escolhido pelas prévias do PSDB para disputar as eleições presidenciais em 2022 e um dos maiores desafetos do chefe do Executivo. 

 

Tostes Neto será o representante do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), em Paris, e terá como missão acelerar o processo de ingresso do país no organismo multilateral conhecido como o “clube dos países ricos”. A saída do secretário especial coincidiu com a “moção de desconfiança” dos auditores federais que, depois de uma assembleia geral, ameaçaram vários atos, como debandada em massa e paralisações se o secretário não deixasse o cargo até 15 de dezembro.

 

“Pressões internas”

 

Fontes da pasta contaram que a saída de Tostes é resultado de várias pressões internas e o objetivo do governo é minimizar os atritos no órgão que é bastante sensível em um ano eleitoral. Além do sindicato dos auditores, havia pressões para a saída do chefe do Fisco tanto do Palácio do Planalto quanto da Polícia Federal, órgão que costumava trabalhar em conjunto com a Receita na fiscalização e na investigação de fraudes.

 

Mas, de acordo com fonte próxima aos funcionários da Receita, Tostes gerou muita insatisfação e, para piorar, conseguiu blindar os filhos de Bolsonaro de investigações do órgão. Para eles, agora, o secretário será “premiado” com um cargo em Paris como delegado do Brasil para a OCDE, posto atualmente ocupado pelo embaixador Carlos Cozendey, ex-secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda no governo Dilma Rousseff. Ao ser questionada sobre o futuro de Cozendey, a fonte não soube informar.

 

E, para o lugar de Tostes na Receita também foi feita uma escolha doméstica, pois, ao que tudo indica, “grandes nomes do mercado não têm muito interesse em integrar uma equipe que está desmoronando e com a credibilidade em decadência”, segundo uma fonte do mercado financeiro.

 

O substituto de Tostes será o auditor Julio Cesar Vieira Gomes, que foi presidente do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf) e é diretor jurídico do Sindifisco Nacional. Gomes é bem técnico e bastante próximo dos militares da Marinha, onde serviu. “Todo mundo foi pego de surpresa e nem ele mesmo sabe como ele foi escolhido por Paulo Guedes”, disse uma fonte próxima ao futuro secretário especial.