ROSANA HESSEL
O Ministério da Economia revisou as projeções para os indicadores econômicos e as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 e de 2022, mas continua mais otimista do que o mercado, superestimando as estimativas de crescimento para inflar as receitas do Orçamento de 2022.
Pelas novas projeções do Boletim MacroFiscal, elaborado pela Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta e divulgado nesta quarta-feira (17/11), o PIB deste ano deverá crescer 5,10%, dado acima das novas estimativas do mercado, cuja mediana do relatório semanal Focus, do Banco Central, está em 4,88%. A nova projeção para o PIB de 2022 passou para 2,10%, também mais otimista do que a mediana que consta no Focus, divulgado ontem de 0,93%. No relatório anterior, de setembro, as estimativas para o crescimento eram de 5,3%, neste ano, e de 2,5%, em 2022.
A SPE também revisou as previsões para a inflação e elevou de 7,90% para 9,70% a previsão do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano, e de 3,75% para 4,70%, a estimativa do IPCA de 2022. Já a perspectiva do Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) deste ano passou de 8,40% para 10,04%. Enquanto isso, a projeção do indicador que corrige o salário mínimo em 2022 passou de 3,80% para 4,25%.
No relatório da SPE, o governo reconhece que as estimativas estão otimistas, mas minimiza a deterioração das estimativas no mercado doméstico e aposta no crescimento do investimento privado no país. “Em 2021, as perspectivas de investimento dos empresários industriais para os próximos seis meses mostram patamar historicamente alto. Ademais, o governo federal prosseguiu com a política econômica focada em consolidação fiscal e reformas pró-mercado. No bojo destas, a venda de participação de subsidiárias de estatais e concessões já ocorridas e as ainda em curso ensejam grandes volumes de investimento planejado, ou seja, os investimentos a ocorrer no ano que vem”, informou o documento “Destaque para o novo marco de saneamento, o qual possibilitará aumento do investimento privado no setor e melhora da qualidade de vida da população, principalmente dos mais vulneráveis. Assim, os investimentos privados devem continuar fortalecendo o crescimento do PIB no ano que vem”, acrescentou.
Os parâmetros do Boletim MacroFiscal da SPE são utilizados para a elaboração do Orçamento de 2022. A redução da previsão de crescimento do PIB afeta diretamente a receita e, no caso da inflação, que não para de subir, impacta nas despesas. Logo, com o governo adotando projeções ainda bastante otimistas em relação ao mercado, a peça orçamentária de 2022 que está sendo analisada pelo Congresso Nacional continua com números fora da realidade, com receitas superfaturadas e despesas subdimensionadas que vão precisar de ajuste logo no inicio do ano, ou seja, um contingenciamento porque não haverá receita suficiente para cobrir as despesas eleitoreiras que o governo pretende incluir sem cortar despesas, como o novo Bolsa Família e o reajuste dos servidores prometido ontem pelo presidente Jair Bolsonaro.
Ao apresentar o novo boletim, o secretário de Política Econômica, Adolfo Sachsida, destacou a queda do desemprego como um dos vetores para o crescimento acima de 2% em 2022, por conta do aumento do aumento da informalidade para os padrões pré-pandemia como fator positivo para o PIB do ano que vem. “A retomada no mercado de trabalho nos parece suficiente para garantir um crescimento acima de 2% no ano que vem”, afirmou. Ele reforçou a expectativa de aumento dos investimentos privados como outro fator que deverá ajudar nesse sentido, mas evitou falar sobre os riscos da inflação mais alta e dos juros acima de 10% no ano que vem, que devem ajudar a travar a atividade econômica.