RODOLFO COSTA
Não será uma tarefa fácil para a articulação política do governo evitar a rejeição dos vetos do presidente Jair Bolsonaro ao Projeto de Lei (PL) 7.596/2017, que define 37 situações que configuram crimes de abuso de autoridade. Por mais que a líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), e o líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO), estejam se articulando para evitar uma derrota sob o comando do ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, a aposta no Parlamento é de uma derrota. “Será um fracasso considerável”, diz uma liderança partidária ao Blog.
O clima político não é bom. E não melhorou depois que vazou à imprensa a informação de que a Polícia Federal (PF) atribui ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), um suposto cometimento de crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e caixa dois, em investigações que envolvem a delação da Odebrecht, no âmbito da Operação Lava Jato. Não apenas ele, como, também, outros parlamentares questionam decisões judiciais divulgadas depois da votação do abuso de autoridade na Câmara, em 14 de agosto. O desconforto joga contra a manutenção de todos os potenciais 10 vetos presidenciais. Bolsonaro não sinalizou que vetará uma dezena de trechos, mas esse é o número sugerido em reunião nesta terça.
O temor de uma derrota é um dos motivos pelo qual Bolsonaro deve sancionar, com vetos, a matéria apenas na quinta-feira da próxima semana (5/9). Joice não fala de um insucesso, mas diz que o presidente está “sentindo a temperatura política”. “Pois sabemos que cada dia muda a estação aqui no Congresso. Ele está sentindo a temperatura política e até o dia 5 ele dá uma resposta. Tem ainda uma semana”, ponderou. Por ora, o governo conta com o apoio de 53 deputados. Assinaram um manifesto pedindo o veto de artigos parlamentares do Podemos, PV, Novo, PSL, entre outros, afirmou Vitor Hugo.
A reunião desta quarta, no entanto, pode ter sido decisiva para evitar uma derrota pior. Do Parlamento, estiveram presentes não apenas deputados da bancada do PSL, mas, também, líderes, vice-líderes e parlamentares de outros partidos. Antes do encontro, alguns parlamentares esperavam apenas um contato casual. Ao longo das conversas, se surpreenderam com um discurso conciliador de Ramos, o articulador político do governo, que sinalizou em tornar deputados e senadores parceiros do governo. Caiu bem. “Antes, o meu sentimento era de que o governo sofreria uma derrota desastrosa. Agora, pode ser que não seja para tanto. Mas uma vitória por unanimidade, chancelando todos os vetos, me parece, hoje, impossível”, advertiu ao Blog um deputado presente na reunião.