Apesar da frustração com o leilão de áreas do pré-sal — a arrecadação ficou R$ 1,6 bilhão abaixo do previsto —, a equipe econômica acredita que o ânimo entre o empresariado melhorou muito, o que dará um novo gás à atividade. A perspectiva é de que, já no último trimestre deste ano, os investimentos comecem a apresentar crescimento, ainda que modesto, tornando a recuperação do Produto Interno Bruto (PIB) mais sólida. A confiança é tamanha que, na avaliação de Marcos Ferrari, secretário de Assuntos Econômicos do Ministério do Planejamento, nem as incertezas em relação às eleições de 2018 vão tirar o país da rota da expansão. “Se, em 2015, a crise era inescapável, em 2017, a recuperação será inevitável”, diz.
Para Ferrari, há um conjunto de fatores sustentando a retomada da economia: inflação baixa, juros em queda, comprometimento menor da renda das famílias com dívidas, dólar comportado, spreads bancários mais baixos e liberação de recursos extras aos trabalhadores. Pelos cálculos dele, juntos, esses fatores devem reforçar em pelo menos R$ 195 bilhões o poder de compra da população até o fim de 2018. De olho nesses recursos, a tendência é de que os empresários se animem em retirar da gaveta projetos de investimentos que estão encalhados há um bom tempo. Haverá, no entender do secretário, a expectativa de ampliação das vendas. Não por acaso, os índices de confiança estão em alta.
Com base nesse cenário, Ferrari admite que as projeções oficiais do governo para o crescimento do PIB neste ano (0,7%) e no próximo (2,4%) se tornaram piso. Se houver surpresas, elas tenderão a ser positivas. “A economia se descolou da política”, frisa Ferrari. Mesmo que o horizonte esteja recheado de incertezas, os investidores estão preferindo acreditar que a recuperação do nível de atividade é para valer. Ele admite, porém, que o ritmo de crescimento dependerá da aprovação de reformas como as da Previdência Social. Se o Congresso der aval às propostas do governo, maior será o salto do PIB.
Entrave fiscal
Nesse processo de recuperação, um ponto vem intrigando Ferrari: a retomada do emprego. Acreditava-se que, mesmo com a economia saindo do atoleiro da recessão que durou mais de dois anos, o mercado de trabalho fosse a última variável a responder. Mas, para surpresa de todos, o emprego está reagindo com a atividade. “Esse é um tema a ser explicado”, afirma. O secretário ressalta que, num primeiro momento, houve criação de vagas no mercado informal. Há seis meses seguidos, porém, é o emprego formal, com carteira assinada, que está puxando a melhora.
“Criou-se um ambiente positivo”, destaca Ferrari. Mas há ressalvas, como a questão fiscal. É visível a dificuldade do governo em cumprir a meta de deficit de até R$ 159 bilhões neste ano e em 2018. Há o risco, inclusive, de o Tesouro Nacional descumprir a chamada regra de outro, que impede a emissão de dívidas para o pagamento de despesas correntes, como salários do funcionalismo. O quadro só não é mais dramático graças aos programas de privatizações e de concessões, que estão compensando a forte perda de receitas com impostos. Além do alívio nas contas, acredita o secretário, a transferência de projetos de infraestrutura para o setor privado acaba tendo o papel relevante de aumentar a produtividade da economia.
Ele chama a atenção, ainda, para o aumento das importações de bens de capital nos últimos meses. Isso significa que, independentemente da elevada capacidade ociosa, as empresas estão adquirindo máquinas e equipamentos para, em algum momento, ampliar os parques produtivos. “Os investimentos virão para dinamizar a trajetória de crescimento do PIB. Foi assim que aconteceu nos Estados Unidos, depois da crise de 2008. Primeiro, veio a recuperação do consumo. Depois, dos investimentos”, afirma. Para Ferrari, não haverá frustração. É esperar para ver.
Brasília, 06h53min