O governo vinha apostando tudo na retomada da economia para fazer uma travessia menos turbulenta em meio ao caos político no qual o país está mergulhado. Em alto e bom som, tanto o presidente Michel Temer e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, trataram, nas últimas semanas, de alardear que, depois de dois anos de recessão — a mais profunda da história —, finalmente, o Brasil estava reencontrando a rota do crescimento. Os indicadores divulgados ao longo desta semana, porém, desautorizam qualquer discurso de euforia. A economia se mantém firme no fundo do poço.
O dado mais emblemático da fragilidade do país é a taxa recorde de desemprego. No trimestre terminado em fevereiro, o índice de desocupados atingiu 13,2%, nível sem precedentes desde 2012, quando a Pnad Contínua passou a ser divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Dias atrás, o governo fez um alarde monstruoso sobre o resultado do emprego formal em fevereiro. O saldo entre contratações e demissões ficou positivo em 35 mil vagas. Temer fez questão de anunciar o número em pomposa entrevista no Palácio do Planalto.
A verdade, porém, é que os brasileiros ainda vão demorar muito para ver a melhora do mercado de trabalho. Os economistas projetam que o número de desempregados, hoje, de 13,5 milhões, passará dos 14 milhões nos próximos meses. As empresas estão muito longe de reforçar o quadro de pessoal. Basta ver o resultado de dois segmentos imprescindíveis para a geração de vagas. O setor de serviços registrou queda de 2,2% de dezembro para janeiro, recuo muito maior do que o tombo de 0,5% projetado. Já o varejo apontou retração de 7% na comparação entre janeiro deste ano e o mesmo mês de 2016.
A fraqueza da economia foi confirmada pelo próprio Banco Central. O IBC-Br, indicador calculado pela instituição que funciona como uma prévia do Produto Interno Bruto (PIB), sinalizou derretimento de 0,26% da atividade. Com isso, a economia voltou aos níveis de 2009. Nem mesmo a queda da inflação, que, teoricamente, daria um alívio no orçamento das famílias, está ajudando a economia a melhorar. Pelo contrário, o que estamos vendo, mês a mês, é a redução do número de pessoas empregadas: agora, são 89,3 milhões, o menor contingente desde maio de 2012.
Rejeição
Não é por acaso, portanto, que a rejeição a Temer está aumentando de forma muito rápida. Pesquisa da CNI Ibope aponta que a reprovação ao governo saltou, entre dezembro do ano passado e março último, de 46% para 55%. Apenas 10% dos entrevistados consideram boa ou ótima a administração do peemedebista. A economia aparece no topo dos motivos para a impopularidade do presidente. Para 85% dos entrevistados, os impostos pagos no país são inaceitáveis e 80% reclamam das elevadas taxas de juros.
As queixas dos eleitores bateram fundo no Palácio do Planalto, que não esconde a ansiedade em relação ao conservadorismo com que o Banco Central vem conduzindo a política de redução da taxa básica da economia (Selic). Com a forte queda da inflação, o governo esperava uma ação mais contundente do BC para reanimar a produção e, sobretudo, o consumo. Mas a diretoria comandada por Ilan Goldfajn tem optado por cortes graduais, contribuindo para o desânimo do empresariado e o descontentamento da população.
Agora, o BC vem dizendo que vai acelerar o passo na redução da Selic, mas o fará moderadamente. O corte nos juros deve ficar em um ponto percentual, para 11,25% ao ano, taxa ainda elevadíssima para a gravidade da situação da economia. Há analistas dizendo que o melhor seria o Comitê de Política Monetária (Copom) derrubar a taxa básica em pelo menos 1,5 ponto na reunião marcada para abril. Mesmo assim, poucos acreditam que a ação do BC seria suficiente para reverter o encolhimento da atividade. Por uma razão simples: o impacto dos juros na economia demora entre seis e nove meses para ser sentido.
Quanto aos impostos, o governo evitou, ao anunciar o corte de R$ 42,1 bilhões no Orçamento deste ano, divulgar aumento de tributos. Mas, sob o discurso de cortar incentivos, elevou o custo das empresas para manter seus empregados. A equipe econômica praticamente acabou com a desoneração que existia sobre a folha de salários. Os empresários avisam que, com esse baque, em vez de contratarem, vão demitir. Há companhias que sequer faturam o suficiente para cobrir gastos imprescindíveis, como os com a remuneração dos trabalhadores.
Diante desse quadro cruel, será difícil para o governo manter o discurso de que o pior da crise econômica ficou para trás. É verdade que os índices de confiança melhoraram, mas até que isso se traduza em reativação da atividade há um longo caminho pela frente. O risco de o país ter crescimento zero neste ano é enorme. Não custa lembrar que, em 2014, a economia ficou praticamente estagnada. Em 2015, o PIB encolheu 3,8% e, no ano passado, recuou 3,6%. Mais um ano sem crescimento será o pior dos mundos. Infelizmente, é o que pode acontecer.
Resta saber como o Congresso reagirá ao descontentamento da população com o governo. Temer precisa manter a base unida para aprovar projetos importantes e totalmente impopulares, como a reforma da Previdência. No Planalto, vários assessores do presidente admitem que o Executivo está perdendo a guerra da comunicação em relação às mudanças que precisam ser feitas no sistema previdenciário. No Nordeste, a visão sobre o governo é a pior possível.
Brasília, 06h30min