Fundo partidário para bancar família de presidente do PHS

Publicado em Economia

BERNARDO BITTAR

A mãe e quatro tios do presidente do PHS, Eduardo Machado, têm participação na empresa da qual ele comprou uma caminhonete e dois sedãs de luxo, pagos com dinheiro público e usados para fins particulares. O político repassou R$ 486 mil do Fundo Partidário para bancar os três carros, que ele usa, inclusive, para ir a sua fazenda. A família também foi beneficiada com R$ 225 mil referentes ao pagamento de material promocional da Funsol, fundação vinculada ao PHS, arrematado numa loja pertencente a uma prima de Machado, que também atua como advogada do partido. Ao todo, a sigla recebeu R$ 3,8 milhões do Fundo Partidário em 2017.

 

Embora tenha gastado R$ 700 mil fechando negócios “em casa”, Machado disse que prestigiou a família porque obteve “o melhor preço” na compra dos carros. “Não entendo porque andam falando mal de mim. Fiz cotações em diversas concessionárias, e foi justamente na deles (familiares) onde achei o melhor preço”, afirmou. Segundo o presidente do PHS, “todos os partidos têm carro, e as referidas aquisições foram necessárias porque existem viagens semanais de Goiânia (onde ele mora) para Brasília, que precisam ser cumpridas”.

 

Machado alegou, ainda, que, desde a compra dos veículos — parte, em 2015, parte, em 2016 —, praticamente não gastou mais verbas com viagens de avião. “O dinheiro das passagens aéreas é jogado no lixo. No fim do ano, vá à garagem do partido e verá os carros lá. Viraram patrimônio. Isso é a preservação do bem público”, frisou. Apesar dessa justificativa, o Correio apurou que, ao menos uma vez por mês, o presidente do PHS viaja a trabalho de avião. Hoje, a estrutura do partido, cuja sede funciona em uma casa na QI 11 do Lago Sul, tem, além dos carros comprados na concessionária da família, outros três veículos de luxo e dois populares.

 

Na mansão do Lago Sul, que é alugada com o dinheiro do fundo partidário, não há funcionários desde o fim de junho por falta de pagamento dos salários. Apenas um segurança toma conta do local, fechado com um cadeado. Responsável pela área administrativa do PHS há cerca de 10 anos, Francisco de Assis Alves disse que não está trabalhando porque foi impedido de entrar na sede do partido. “Mesmo sem receber, mesmo pedindo empréstimos, eu e os outros três funcionários estávamos indo todos os dias até sermos barrados a mando do Seu Eduardo. Não sei o motivo de ele estar contra nós. Os trabalhadores não têm nada a ver com essa confusão toda que se criou lá dentro”, justificou.

 

Assis disse estar constrangido de voltar ao trabalho depois do ocorrido, mas pretende cobrar os meses de salários e benefícios atrasados. “Pago aluguel, tenho um monte de conta vencida e família para sustentar. Não posso me dar ao luxo de ficar sem emprego e jogar fora todos os anos de dedicação ao partido”, afirmou. Embora tenha medo de represálias, o funcionário faz questão de ressaltar: “Conto essa história porque é verdadeira”.

 

“Prima-irmã”

 

Ex-presidente da Funsol, fundação vinculada ao PHS, Beto Roriz disse que o presidente do partido mandou a empresa de Adriana Machado Sá Peixoto, prima dele e advogada da entidade fazer a reencadernação de um livro, atividade que custou R$ 225 mil. “Ele a chama de prima-irmã, e todo mundo, inclusive eu, fomos contra esse envolvimento na fundação. A empresa da qual ela é sócia não é uma gráfica, mas, sim, especializada em eventos. Ele, no entanto, nos obrigou a fechar com ela. Quando isso aconteceu, comuniquei o conselho fiscal do PHS e renunciei ao cargo”, afirmou.

 

A advogada, no entanto, informou ser sócia de “diversos empreendimentos”, e disse que não obtém lucros em todos. “É o caso dessa empresa de eventos. Ser acionista não significa ter poderes de gestão nem recebimento de pró-labore. Eu não recebi um real de distribuição de lucros. Sou de uma família de notável conhecimento jurídico, tenho um tio procurador”, destacou Adriana. Ela recebe R$ 10 mil por mês do PHS para advogar em favor do partido em Brasília, mesmo morando em Goiânia.

 

Segundo integrantes do PHS, as irregularidades fizeram com que Eduardo Machado fosse afastado do cargo em reunião do diretório nacional. “O cara está destruindo o partido, que estava caminhando muito bem. Quando você fica em um cargo durante muito tempo e começa a achar que é dono dele, não dá certo”, observou Laércio Benko, que teria sido eleito na reunião do colegiado dirigente do partido. “Hoje, não se tolera mais corrupção”, assinalou.

 

Objetivos deturpados

 

Enquanto se discute a injeção de R$ 2 bilhões a R$ 3,6 bilhões em um fundo para o financiamento de campanhas eleitorais, os políticos comprovam a irresponsabilidade no urso de recursos públicos. É o caso do PHS, que vem usando o Fundo Partidário para operações suspeitas. O Fundo Partidário é uma reserva bancada pela União para financiar os gastos das siglas. Uma parte é dividida proporcionalmente às legendas, diante de sua representação no Congresso, e, outra, fatiada igualmente entre os partidos.

 

Uma parcela das verbas deve, obrigatoriamente, ser destinada à criação e à manutenção de um instituto ou de uma fundação de pesquisa. Também precisa garantir atividades de estímulo à participação de mulheres no mercado de trabalho. O restante é usado para despesas administrativas e campanhas institucionais. Cada partido pode distribuir os recursos internamente, da maneira que achar melhor.

 

O Fundo Partidário foi criado em 1965, no governo de Castello Branco, início da ditadura militar. O objetivo seria garantir que as legendas sobrevivessem, tivessem autonomia financeira e garantissem a diversidade de ideias na política.

 

Outro lado

 

A advogada Adriana Peixoto informou à reportagem, nesta terça-feira, 29, que o contrato de consultoria firmado com a Funsol, fundação vinculada ao PHS, teve duração de um ano e acabou em maio deste ano. “A Funsol é fiscalizada pelo Ministério Público, não há irregularidade nisso”, justificou.

 

Brasília, 13h14min