ROSANA HESSEL
As condições financeiras globais ficaram mais apertadas à medida que os bancos centrais aceleram a política monetária normalização dos juros a fim de conter uma inflação mais enraizada na economia, destaca o Fundo Monetário Internacional (FMI) em um outro Relatório de Estabilidade Financeira Global, divulgado nesta terça-feira (11/10), que aponta os riscos dos juros muito elevados na atividade global e reforça a preocupação com a alta generalizada do custo de vida.
“Em meio ao ambiente global altamente incerto, os riscos para a estabilidade financeira aumentaram substancialmente. Os principais problemas enfrentados pelos sistemas financeiros incluem a inflação em altas de várias décadas, continuando deterioração das perspectivas econômicas em muitas regiões, e persistentes problemas geopolíticos riscos, conforme discutimos em nosso último relatório de Estabilidade Financeira Global”, destaca Tobias Adriano, diretor do Departamento de Política Monetária e Mercado de Capitais do FMI, em artigo publicado no site da instituição após a divulgação do segundo relatório do dia. Pouco antes, na nova edição do Panorama Econômico Global, o Fundo revisou as previsões de crescimento da economia global e até melhorou a perspectiva para o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil neste ano, mas também alertou para o risco de uma nova recessão global.
Adriano destacou que, para evitar que as pressões inflacionárias se enraízem, os bancos centrais tiveram que acelerar o aperto da política monetária em um momento em que as economias desenvolvidas e emergentes ainda estão frágeis e enfrentam riscos ampliados e vulnerabilidades em diferentes setores e regiões.
“As vulnerabilidades financeiras são elevadas para os governos, muitos com dívidas crescentes, como bem como instituições financeiras não bancárias, como seguradoras, fundos de pensão, fundos de hedge e fundos mútuos”, destacou o economista do Fundo, lembrando que as taxas de juros crescentes aumentaram o estresse para empresas endividadas e, ao mesmo tempo, deteriorando os preços dos ativos. “A baixa liquidez do mercado, juntamente com vulnerabilidades pré-existentes, poderia amplificar qualquer reavaliação rápida e desordenada do risco, caso ocorra nos próximos meses”, destacou.
Segundo ele, os mercados globais estão mostrando tensões, pois os investidores, recentemente, se tornaram mais avessos ao risco em meio ao aumento da incerteza econômica e política na economia global. “Os preços dos ativos financeiros caíram política monetária apertou, as perspectivas econômicas se deterioraram, temores de recessão cresceram, os empréstimos em moeda forte tornaram-se mais caros e o estresse em alguns instituições financeiras não bancárias acelerou. Os rendimentos dos títulos estão subindo amplamente em classificações de crédito, com custos de empréstimos para muitos países e empresas já subindo para os níveis mais altos em uma década ou mais”, complementou.
Riscos para a prosperidade futura
Em outro documento sobre o relatório de estabilidade financeira global, o economista Pierre-Olivier Gourinchas, diretor do Departamento de Pesquisa do FMI, reforçou o alerta sobre os riscos do aumento das pressões inflacionárias na economia global que podem “comprometer a prosperidade futura”.
“As crescentes pressões sobre os preços continuam sendo a ameaça mais imediata à prosperidade atual e futura, comprimindo a renda real e minando a estabilidade macroeconômica. Os bancos centrais estão agora focados em restaurar a estabilidade de preços, e o ritmo de aperto acelerou acentuadamente”, destacou.
Gourinchas reconheceu que existem riscos de aperto insuficiente e excessivo, mas um aperto insuficiente “fortaleceria ainda mais a inflação, corroeria a credibilidade dos bancos centrais e desencorajaria as expectativas de inflação”. “Como a história nos ensina, isso só aumentaria o eventual custo de controlar a inflação. Riscos de aperto excessivo empurram a economia global para uma recessão desnecessariamente severa. Os mercados financeiros também podem lutar com um aperto excessivamente rápido. No entanto, os custos desses erros de política não são simétricos”, acrescentou.
Na avaliação do analista, a credibilidade duramente conquistada dos bancos centrais pode ser prejudicada se eles julgarem mal novamente a persistência teimosa da inflação. Isso seria muito mais prejudicial para a futura estabilidade macroeconômica. “Sempre que necessário, a política financeira deve assegurar a estabilidade dos mercados. No entanto, os bancos centrais precisam manter uma mão firme com a política monetária firmemente focada em domar a inflação”, emendou.