Apesar da piora nas previsões para a economia brasileira, a Fitch está mais otimista do que o Fundo Monetário Internacional (FMI), que espera recuo de 5,3% no PIB do Brasil, neste ano, devido à recessão que está sendo provocada pela pandemia de Covid-19. Em relação ao PIB global, no entanto, a agência norte-americana ficou mais pessimista do que o Fundo, porque prevê contração de 3,9%, enquanto o organismo multilateral estima recuo de 3%.
Ao comentar sobre a nova previsão de queda de 3,9% no PIB mundial, Brian Coulton, economista-chefe da Fitch Ratings, classificou a recessão global como “sem precedentes no período pós-guerra”. “Isso é duas vezes maior que o declínio previsto em nossa atualização relatório no início de abril e seria duas vezes mais severo que a recessão de 2009”, comparou.
Pelos cálculos da Fitch, esse declínio equivale a uma perda de US$ 2,8 trilhões nos níveis de renda global em relação a 2019 e uma queda de US$ 4,5 trilhões em relação às nossas expectativas pré-vírus em relação ao PIB global em 2020.
A agência ainda espera um tombo de 5,6% na atividade dos Estados Unidos e recuo de 7% no PIB da Zona do Euro, em função da desaceleração global devido à pandemia provocada pelo novo coronavírus. No relatório anterior, a agência previa contração do PIB global de 1,9% em 2020, com os Estados Unidos encolhendo 3,3% e a eurozona recuando 4,2%.
As projeções para a China da Fitch também estão mais pessimistas do que as do FMI, pois a agência prevê crescimento de apenas 0,7% na economia chinesa enquanto o Fundo espera avanço de 1,2%.
Preocupação com fiscal
O ministro da Economia, Paulo Guedes, junto com o secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, e técnicos do órgão realizam uma teleconferência com executivos da Fitch, liderados por Shelly Shetty, diretora e co-head para a análise de títulos soberanos das Américas da agência.
Pela lista dos técnicos que participam do encontro o assunto da pauta certamente será o fiscal, que de acordo as últimas declarações de Mansueto deverá piorar, com a dívida pública bruta subir para 85% a 90% do PIB no fim deste ano. Já o FMI estima que a dívida pública do país fique em 98,2% do PIB, neste ano e no próximo. O
A preocupação com o descontrole nas contas públicas é grande entre analistas, porque o país já não vinha conseguindo crescer nos últimos anos em ritmo mais robusto e, com a nova recessão sendo formada, a recuperação será muito mais desafiadora. Na avaliação do economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos, a dívida pública bruta do governo brasileiro deverá ultrapassar 90% do PIB, com o déficit primário chegando em 10% do PIB, ou seja, algo entre R$ 710 bilhões a R$ 730 bilhões, considerando as estimativas do mercado para o PIB deste ano. Já deficit nominal, que inclui a conta de juros, deverá ficar em 15% do PIB.
Com esse cenário para lá de ruim para as contas públicas, na avaliação de Ramos, o país terá muita dificuldade de conseguir crescer pós-pandemia. “A dinâmica de recuperação é incerta e não há precedentes de como a economia vai reagir quando houver um controle maior na crise que vai ter muitas empresas fechando as portas e isso poderá retardar a retomada”, alertou.
O economista do Goldman lembrou ainda que, no caso do Brasil, o crescimento da economia já vinha sendo “medíocre”, porque o governo não conseguiu fazer uma ajuste fiscal de verdade após a recessão de 2015 e 2016. Entre 2017 e 2019, o PIB brasileiro cresceu em torno de 1% ao ano. “O Brasil já não tinha espaço fiscal para estimular a economia após a reforma da Previdência, aprovada no ano passado. O ajuste efetivo nas despesas ainda não foi feito e, agora, obviamente, o governo precisará gastar muito mais. Logo, o quadro fiscal tende a piorar e país continuará sem força para voltar a crescer após essa crise”, resumiu Ramos.
Pela classificação da Fitch, os títulos soberanos do Brasil em moeda estrangeira estão com nota BB-, parecida com a Standard & Poor’s, e a três degraus abaixo do nível de investimento. A avaliação para o selo de bom pagador é de BBB- e acima disso. Abaixo desse patamar, o risco de calote dos papeis é considerado elevado e os títulos ficam classificados como “lixo”.