ROSANA HESSEL
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) surpreendeu o mercado e elevou os juros básicos em 0,75 ponto percentual nesta quarta-feira (15/6), para o intervalo de 1,5% a 1,75% ao ano, acendendo o sinal de alerta para o Banco Central brasileiro.
“A inflação permanece elevada, refletindo desequilíbrios de oferta e demanda relacionados à pandemia, preços mais altos de energia e pressões mais amplas sobre os preços”, destacou o Fed no comunicado do Fomc, comitê de política monetária norte-americano. O Fed ainda avisou que “está altamente atento aos riscos inflacionários”.
“A invasão da Ucrânia pela Rússia está causando enormes dificuldades humanas e econômicas. A guerra e os eventos relacionados estão criando uma pressão ascendente adicional sobre a inflação e estão pesando sobre a atividade econômica global”, acrescentou. O comitê ainda destacou que os bloqueios relacionados à covid-19 na China, provavelmente, “exacerbarão as interrupções na cadeia de suprimentos”.
Votaram a favor da decisão de alta 0,75 ponto percentual nos juros o presidente do Fed, Jerome Powell, o vice-presidente, John C. Williams, Michelle W. Bowman; Lael Brainard; James Bullard; Lisa D. Cook; Patrick Harker; Philip N. Jefferson; Loretta J. Mester; e Christopher J. Waller. Contra a ação votou Esther L. George, que preferiu uma alta de 0,5 ponto percentual. Foi a maior alta na taxa de juros dos EUA em quase 30 anos devido às fortes pressões inflacionárias. Em maio, o índice de preços ao consumidor nos Estados Unidos (CPI, na sigla em inglês) subiu 1% em maio, acumulando um salto de 8,6% em 12 meses, o pior resultado desde dezembro de 1981. Esse percentual é mais de quatro vezes a taxa média da meta, de 2% ao ano.
André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, destacou que a surpresa não foi tão grande porque, há alguns dias, o mercado já andava tenso por conta do aumento da expectativa de uma alta acima do consenso, de 0,50 ponto percentual. “O Fed resolveu enfrentar mais diretamente a inflação e esta alta está reorganizando a curva de juros por lá sancionando a visão mais altista dos juros”, explicou. Ele aposta que a taxa básica dos juros norte-americanos poderá chegar a 4% no final do ciclo.
A decisão do Fed ocorre poucas horas da conclusão da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central do Brasil. A coincidência das datas é chamada de Super Quarta pelo mercado financeiro, cujo consenso é de uma alta de 0,50 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic), atualmente em 12,75% ao ano.
“O consenso é 0,50 ponto percentual, mas as apostas de alta de 0,75 ponto percentual estão aumentando desde ontem”, alertou Arley Júnior, estrategista de Investimentos do Santander Brasil. “A inflação anda muito disseminada e, apesar de prevermos mais dois aumentos da Selic neste ano, para 13,50% até agosto, patamar que deverá permanecer até o fim do ano, o fato é que a tendência é termos a taxa de juros elevada por bastante tempo”, destacou. Para ele, o comunicado de hoje do Copom será fundamental para indicar a direção que o BC pretende tomar em relação à política monetária.
Mas, para André Perfeito, uma alta mais forte dos juros nos EUA e com o real “relativamente sob controle”, o Copom deve manter a trajetória de 50 pontos e parar em 13,25%. “Afinal o Fed está fazendo o ‘trabalho sujo’ de controlar a inflação”, afirmou.
Vale lembrar que, mesmo com a aprovação do projeto de lei que impõe teto de 17% para o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e a promessa de redução no custo dos combustíveis, não há uma certeza de queda forte do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que está acima de 10% desde setembro do ano passado e pode encerrar este ano perto de 10%, na melhor das hipóteses.
As previsões do mercado para o IPCA continuam acima da meta deste ano, de 5%, e do ano que vem de 4,75%. A inflação está bastante disseminada e mesmo uma queda agora não refresca o cenário. “O índice de difusão da inflação é muito alto, de 72% em maio. Não são apenas os preços dos combustíveis que estão subindo, mas quase todos os itens pesquisados, e, portanto, será difícil para o Banco Central conseguir trazer a inflação para o centro da meta. Isso deverá ocorrer apenas em 2024”, alertou Arley Júnior, do Santander. O banco prevê o IPCA encerrando o ano em 9,5%, passando para 5,3%, em 2023. Já a taxa Selic deverá encerrar este ano em 13,50%, e, no ano que vem, continuará em dois dígitos, fechando dezembro em 10,50%.
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