Fed reduz juros pela primeira vez desde 2008 e abre porta para corte na Selic

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

Em dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o Fomc, o Copom do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), reduziu os juros em 0,25 ponto percentual nesta quarta-feira (31/07), passando dos atuais 2,5% ao ano, para 2,25% anuais. Este é o primeiro corte na taxa básica feita pelo Fed nos últimos 11 ano, abrindo a porteira para que o Copom também reduza a taxa básica de juros (Selic), que está em 6,5% desde março de 2018. O resultado da decisão, no entanto, não foi unânime. Dois dos 10 diretores da instituição votaram contra a diminuição dos juros: Esther George, do Fed de Kansas (Missouri), e Eric Rosengreen, do Fed de Boston (Massachusetts).

 

O comunicado do Fed destacou “pressões inflacionárias moderadas” como um dos motivos da decis]ao. Havia um consenso de que o corte do Fed seria nesse patamar, mas a sinalização mais comedida do BC norte-americano, pode ser acompanhada pelo Copom.  Com isso, poderá fazer um corte menor do que o esperado na Selic hoje, que está no mais baixo patamar da história.  Assim como o Fomc, o Copom pode acabar ficando menos “dovish” (termo usado pelos economistas para a política monetária mais expansionista) mais leniente com a inflação e mais preocupada com a atividade econômica) do que as previsões dos analistas. 

 

O Fed disse que cenário continua incerto e que eles vão tomar medidas apropriadas no momento adequado. Ou seja, aparentemente, não deu indicações dos próximos passos”, avaliou o diretor da Mirae Asset, Pablo Spyer. Na avaliação dele, o comentário do Fed de que o corte foi um “ajuste de ciclo”, significa que “não há planos para novos cortes”, e, com isso, o dólar sobiu e a bolsa caiu. A Dow Jones, em Nova York, despencou 250 pontos logo após o anúncio do Fomc, por exemplo. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3) seguiu as internacionais e encerrou com queda de 1%, a 101.812 pontos. Spyer acredita que as chances de o BC reduzir a Selic também em 0,25 ponto percentual são mais prováveis, frustrando as expectativas do mercado, cuja maioria está apostando em 0,50 ponto de corte.

 

Especialistas não têm dúvidas de que o Copom, que voltou a se reunir hoje às 14h, vai cortar a Selic e, para isso, a decisão do Fed será levada em consideração antes de anunciar o resultado da reunião desta “super quarta” depois das 18h.  “A sinalização do Fomc é importante para a decisão do Copom. Não apenas o corte, mas a indicação do Fed sobre os passos seguintes, se o processo será ou não gradual, devem fazer a diferença para que o Banco Central inicie o novo ciclo de corte da Selic em 0,25 ou em 0,5 ponto percentual”, destaca a economista Patrícia Pereira analista da Mongeral Aegon Investimentos, que aposta em queda de 0,5 ponto percentual na Selic.

 

Polêmicas

 

Nos últimos dias, o mercado está mais ligado no Fed e no Copom, na expectativa dessa “super quarta”, mas as declarações polêmicas do presidente Jair Bolsonaro tem preocupado os analistas. Por enquanto, essa confusão não está se refletindo nos preços dos ativos porque o Congresso está em recesso. Entretanto, há um certo desconforto entre os agentes do mercado sobre as falas desconexas da realidade de Bolsonaro, que vão desde a desoneração sobre jogos eletrônicos e sobre bebidas, na contramão do ajuste fiscal, passando pelas ofensas aos governadores do Nordeste até o mal estar causado sobre o comentário sobre a morte do pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz. Essa agenda de costumes, admitem, pode atrapalhar o andamento da econômica se o presidente não tiver um freio e for mais comedido daqui para frente.

 

“O Congresso está em stand by, por enquanto, e por isso não há uma repercussão forte sobre as declarações recentes do presidente. Mas, de fato, preocupa. Mais cedo ou mais tarde, ele pode ter um calcanhar de Aquiles junto aos agentes econômicos. Por enquanto, o mercado fica mais ligado nas decisões do Fed e do Copom”, explica a economista-chefe da Rosenberg Associados, Thais Marzola Zara. Ela prevê corte de 0,25 ponto percentual na Selic hoje. “A inflação realmente está em um nível muito baixo, com dados recentes do IPCA-15 e do IGP-M indicando um quadro mais benigno para o custo de vida, favorecendo o corte na Selic pelo Copom. Temos indicadores de atividade bastante mornos, mas a expectativa é que há espaço para corte, mas as comunicações do BC não dão sinais de que ele será tão agressivo como o mercado quer”, destacou.