Fed mantém juros estáveis. Dólar sobe e Bolsa cai

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ROSANA HESSEL

O Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) decidiu, nesta quarta-feira (12/6), manter entre 5,25% e 5,50% o intervalo dos juros básicos pela quarta vez no ano, apesar de o Índice de Preços ao Consumidor (IPC), divulgado mais cedo, ter dado sinais de desaceleração ao se manter estável em maio, acumulando alta de 3,3% em 12 meses.

É a sétima reunião seguida do comitê de política monetária do Fed, o Fomc, em que os juros permanecem inalterados, no maior patamar desde 2001, o que abala os mercados emergentes, como o Brasil e o México, que veem suas respectivas moedas perder valor frente ao dólar.

“Indicadores recentes sugerem que a atividade econômica continuou a expandir-se a um ritmo sólido. Os ganhos de emprego permaneceram fortes e a taxa de desemprego permaneceu baixa. A inflação diminuiu ao longo do ano passado, mas permanece elevada”, destacou o comunicado Fomc.

Na avaliação do colegiado, ainda há muitas incertezas. “O comitê considera que os riscos para alcançar os seus objetivos de emprego e inflação evoluíram para um melhor equilíbrio ao longo do ano passado. As perspectivas econômicas são incertas e o Comité permanece muito atento aos riscos de inflação”, destacou o documento.

A meta de inflação do BC norte-americano é de 2% e o comitê informou que “não espera que seja apropriado reduzir o intervalo da meta até que tenha ganhado maior confiança de que a inflação está a evoluir de forma sustentável para 2%. Além disso, informou que “continuará a reduzir as suas participações em títulos do Tesouro e dívida de agências e títulos garantidos por hipotecas de agências”.

A decisão do Fed, na avaliação do economista Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, foi um pouco mais “dovish” (mais leniente com a inflação) do que na reunião anterior, “porque o comunicado falou em progresso observado nos dados de inflação”. As projeções indicam apenas um corte nos juros ainda neste ano. “Isso colocaria uma dúvida sobre quando isso aconteceria, provavelmente, no fim do ano, mas, de qualquer forma, a interpretação pode ser mais hawkish (menos tolerante com a inflação), nesse aspecto”, afirmou.  “Dependendo do que aconteça com a inflação, eles podem começar a reduzir os juros em setembro. Mas, de qualquer maneira, acho que afasta totalmente a possibilidade de algum tipo de modificação em julho”, afirmou.

José Francisco Lima Gonçalves, economista-chefe do Banco Fator, lembrou que o presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou, logo após a divulgação da decisão do Fed, que é cedo para mudar de postura, apesar de lembrado da melhora dos indicadores. “Perguntado sobre possíveis inconsistências nas projeções dos membros do Fomc, respondeu que são apenas projeções. Sobre os números conflitantes do relatório de emprego (mais contatações e mais desemprego), disse que diferenças ocorrem e que é preciso levar em conta mais de um dado”, afirmou. Ele ainda destacou que o dado do CPI de hoje “tem peso relativo, pois é apenas um dado e não é o indicador preferido pelo comitê (PCE)”.  “As apostas em duas quedas de 0,25 pontos percentuais até o fim do ano continuam majoritárias”, frisou.

Enquanto isso, o mercado financeiro ficou bastante tenso na expectativa da decisão do Fed, tanto que o dólar chegou a disparar 1,29% e foi cotado a R$ 5,42, em meio ao discurso para empresários do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”.

Após a decisão do Fed, o dólar deu uma arrefecida e era negociado a R$ 5,38. No ano, a divisa norte-americana está quase 11,5% mais valorizada contra o real e quase 11% contra o peso mexicano, pelos cálculos do consultor André Perfeito, ex-economista-chefe da Necton Investimentos. Enquanto isso, a Bolsa de Valores de São Paulo (B3) operava no negativo e abaixo dos 120 mil pontos.  Por volta das 15h50, recuava 1,69%, para 119.581 pontos.

Vicente Nunes