Fed aumenta juros para 0,5% e deixa porta aberta para novas elevações

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ROSANA HESSEL

Em dia de decisão de política monetária no Brasil e nos Estados Unidos, a chamada “super quarta” do mercado financeiro, o Federal Reserve (banco central dos Estados Unidos), elevou a taxa básica de juros norte-americana pela primeira vez desde 2018.

O Fomc, comitê de política monetária do Fed, elevou os juros básicos em 0,25 ponto percentual, fazendo o intervalo da taxa passar para 0,25% a 0,5% ao ano, nesta quarta-feira (16/3), em linha com as expectativas dos analistas, mas a decisão não foi consensual.

“Na estratégia de ‘não fazer marola’, o comunicado pós-reunião do Fomc foi o mais sucinto possível”, avaliou o economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio de Souza Leal. Ele destacou quem enquanto o documento da reunião de janeiro tinha 2.760 caracteres (com espaço), o de hoje utilizou apenas 2.261 (com espaço), “uma redução de 18%”. “Dessa forma, pouco ou nada foi dito a respeito dos próximos passos da política monetária do Fed. Apenas indicou que serão necessárias novas altas e que a decisão a respeito da redução do balanço de ativos será tomada nas próximas reuniões”, acrescentou.

Votaram a favor da decisão o presidente do Fed, Jerome Powell, o vice-presidente John Williams e outros seis integrantes do Fomc, inclusive Patrick Harker, que votou como suplente. Apenas James Bullard, presidente do Fed de St. Louis, votou contra, preferindo alta de 0,5 ponto em vez de 0,25 ponto percentual, o que também não era surpresa para o mercado.

“A conclusão é que o comunicado da reunião foi hawkish (mais agressivo na condução da política monetária), mas não pelo que disse, mas pelo que mostrou que vai fazer. O que reforça a nossa projeção de juros ao final do ano em 2% e de final de ciclo em 3%”, destacou Leal. Ele apostava alta de 0,25 ponto percentual na decisão do Fomc de hoje e espera elevação de 1,0 ponto percentual na taxa básica da economia (Selic) de hoje.

“Os bancos centrais querem evitar mais agitação no mercado. Há muita volatilidade no mercado por conta da guerra e das incertezas. O que o Copom deverá fazer é deixar a janela aberta para novos aumentos da Selic. Acho apenas que ele vai reconhecer no comunicado que o impacto dessa guerra vai ser inflacionário e talvez ele tenha que ir mais para o terreno contracionista”, afirmou Leal.

André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, também aposta em novas altas de juros nos EUA, que registrou, em fevereiro, a inflação mais elevada desde 1982. “O Fed citou o conflito da Ucrânia como um motivo adicional de incerteza e a inflação corrente em alta”, destacou. Contudo, a falta de sinalização sobre o programa de redução de ativos, o tapering, Perfeito avaliou que, para a próxima reunião, o Fed deixou esse assunto “soando frouxo”, fazendo os juros mais curtos dispararem.

“O Fed deveria iniciar sua política de vendas de ativos, o que é similar a uma política monetária contracionista, uma vez que ao vender os ativos no seu balanço ele retira dinheiro do sistema”, acrescentou Perfeito. Para ele, a decisão do Fed não agradou os investidores e deve reforçar o sentimento de que será necessário mais altas de juros. “Esse mal-estar joga pressão sobre o Banco Central do Brasil que irá anunciar ainda hoje a nova taxa básica e há consenso de 100 pontos-base. Projetamos 125 pontos. Se o BCB não for firme podemos ter ainda maiores ruídos na curva de juros brasileira”, afirmou.

Luiz Carlos Corrêa, sócio da Nexgen Capital, reforçou que a decisão do Fed “seguiu em linha com o mercado”. “Não houve surpresas e, por isso, não houve grande volatilidade com essa decisão do Fed, porque o o mercado já está precificando essa alta de 0,25%”., disse. “É importante aguardarmos os próximos comunicados para termos mais informações sobre quais serão os próximos passos do Fed”, acrescentou.

Vicente Nunes