ROSANA HESSEL
A Operação Tempus Veritati, da Polícia Federal, abalou as bases bolsonaristas e pode culminar, em algum momento na prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), de acordo com especialistas do Eurasia Group. Na quinta-feira (8/2), a PF deflagrou uma operação contra o ex-chefe do executivo e vários militares de alta patente do governo anterior, coletando mais evidências de que eles estavam considerando ativamente um plano para anular o resultado das eleições de 2022, ordenando o estado de emergência e prendendo a principal autoridade eleitoral.
“As investigações certamente avançarão nas próximas semanas e meses, mas tudo aponta para chances crescentes de Bolsonaro ser preso em algum momento”, destacou o cientista político Christopher Garman, diretor para as Américas do Eurasia Group, consultoria norte-americana de economia e política, em relatório divulgado, nesta sexta-feira (9/2), aos clientes e ao qual o Blog teve acesso.
“Há alguma especulação de que estes desenvolvimentos poderiam inflamar parlamentares mais alinhados a Bolsonaro – particularmente por causa da prisão do presidente do PL, Valdemar Costa Neto, que tinha uma arma de fogo com licença vencida”, destacou o relatório. Na avaliação de Garman, a base pró-Bolsonaro interpretará, sem dúvida, a busca e apreensão como uma caça às bruxas política.
A análise do Eurasia Group ainda cita a pesquisa da Quaest, divulgada ontem à noite, mostrando que os indicadores das redes sociais sugerem que a operação da Polícia Federal provocou uma reação cujo volume se equipara ao dos ataques de 8 de janeiro.
“As novas evidências aumentam as chances de eventual prisão de Bolsonaro, que já não pode concorrer; e as repercussões, a curto prazo, parecem modestas, mesmo que isso signifique que a capacidade de Bolsonaro fazer campanha nas próximas eleições locais será limitada”, informou o documento.
Para Garman, no entanto, “a investigação aprofundará a divisão política do país, uma vez que os eleitores conservadores encaram isto como uma caça às bruxas política, reforçando níveis consideráveis de desconfiança; além disso, pouco contribui para reduzir a capacidade de Bolsonaro de influenciar as eleições presidenciais de 2026, mesmo que não possa concorrer”.
Ontem, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes autorizou a Polícia Federal a realizar busca e apreensão contra o ex-presidente e aliados próximos, incluindo o presidente do PL, Valdemar Costa, e o ex-companheiro de chapa de Bolsonaro, Walter Braga Netto. A polícia reteve o passaporte do ex-presidente e ele foi proibido de falar com outras pessoas visadas pela investigação da Polícia Federal sobre as tentativas de Bolsonaro e seus aliados de invalidar as eleições de 2022.