Estrangeiros continuam em fuga do Brasil. Neste ano, já tiraram R$ 4,6 bi da Bolsa

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RAFAELA GONÇALVES

Os investidores estrangeiros tão esperados pelo governo estão longe de vir para o Brasil. Pior: aqueles que estão por aqui têm preferido mandar de volta recursos para seus países de origem. Em janeiro, até o dia 10, os estrangeiros retiraram R$ 4,6 bilhões da Bolsa de Valores de São Paulo (B3).

Nesse período, foram realizados sete pregões. Segundo a Bolsa, não se via uma fuga tão grande de recursos do mercado acionário em período semelhante desde 2008, quando o mundo foi sacudido pelo estouro da bolha imobiliária norte-americana.

Os estrangeiros estão decepcionados, principalmente, com a lenta recuperação da economia brasileira. Nem mesmo a euforia demonstrada por economistas locais no início do ano convenceu os estrangeiros a retornarem para o Brasil. Ou pelo menos a manterem o que têm aplicado aqui.

Para o capital externo, ainda falta muito para que o Brasil consolide um crescimento mais sustentado. Os investidores ressaltam que a fragilidade do crescimento pode ser confirmada pelos mais recentes dados da indústria, dos serviços e do varejo, de novembro do ano passado.

Segundo o IBGE, a indústria caiu 1,2% em novembro de 2019, o pior resultado para o mês desde  2015. O setor de serviços, que representa mais de 60% do Produto Interno Bruto (PIB) do lado da oferta, recuou 0,1%. Já o varejo, mesmo com a liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e da Black Friday, cresceu apenas 0,6%.

Fator Bolsonaro

Para os estrangeiros, é preciso que o Brasil avance ainda mais nas reformas estruturais ao longo deste ano, para que realmente volte a crescer com força. A reforma da Previdência, apontada por muitos como salvadora da pátria, não teve a repercussão esperada, por seus efeitos limitados.

Os analistas dizem ainda que os investidores estrangeiros estão saindo do Brasil porque já não é mais vantajoso permanecer no país com taxas de juros tão baixas. A taxa básica (Selic) está em 4,5% ao ano, menor nível da história. Nesse patamar, acabou o espaço para as arbitragens, ou seja, para ganhar com as diferenças entre os juros daqui e os de lá de fora.

Também reclamam do fato de o presidente Jair Bolsonaro criar muita instabilidade política, ao não ter uma boa relação com o Congresso. Outro ponto que desanima o capital externo: a inexistência de uma política ambiental no país. Os estrangeiros veem o atual governo como um incentivador ao desmatamento.

Brasília, 09h38min

Vicente Nunes