ROSANA HESSEL
Enquanto o Índice Bovespa, principal indicador da Bolsa de Valores de São Paulo (B3), amargou 11,93% em perdas acumuladas em 2021, a primeira queda desde 2015, algumas ações se destacaram e tiveram desempenho positivo no ano e acima da inflação.
A líder em ganhos foi a Embraer, que registrou retorno de 180,45% no acumulado do ano, conforme os dados da Economática enviados ao Blog nesta quinta-feira (30/12). “A valorização foi bem elevada”, comentou o gerente de relacionamento institucional da consultoria, Einar Rivero.
A fabricante nacional de aviões, que está desenvolvendo um carro voador, o Eve, vem ganhando o interesse de investidores da B3 há algum tempo. E, nesta semana, a empresa anunciou a fusão entre a subsidiária Eve Air Mobility com a Zanite, dos Estados Unidos, para criar uma joint-venture que poderá ser listada na Bolsa de Nova York (NYSE) em 2022.
Em 2020, as ações da Embraer desabaram após a Boeing desfazer o acordo de fusão em meio à pandemia de covid19. Em abril do ano passado, a gigante norte-americana cancelou a compra bilionária da companhia brasileira e, agora, os papéis da Embraer estão bem acima dos patamares de antes da derrocada.
Em segundo lugar no ranking da Economática ficou a Braskem, com valorização nas ações de 176,29% desde 31 de dezembro de 2020. Na sequência vieram os frigoríficos JBS e Marfrig, com altas de 75,75% e de 73,04%, respectivamente.
As ações da Petrobras ficaram em quinto lugar no ranking, com valorização de 30,37% no ano. À frente da estatal ficou a Petrorio, que registrou ganhos de 47,24%. O papel de bancos mais bem posicionado na listagem foi o Banco Pan, com retorno de 14,56% no ano.
Na listagem de 93 ações, 27 tiveram retorno positivo no ano e apenas 19 delas registraram retorno acima de dois dígitos. O restante, perdeu para a inflação, se considerarmos a alta de 10,02% prevista pelo mercado para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Vale lembrar que as ações ordinárias (com direito a voto) da Embraer têm um peso pequeno no IBovespa se comparado com as preferenciais da Petrobras (sem direito a voto, mas preferência na distribuição dos dividendos), de 0,92% contra 6,69%.
As maiores perdas ficaram com as empresas do varejo tradicional. As ações da Magazine Luiza registraram desvalorização de 71,04% no ano, liderando o ranking. Na sequência, os papéis da Via Varejo e do Pão de Açúcar acumularam quedas de 67,65% e de 62,77%, respectivamente.
Gustavo Cruz, estrategista da RB Investimentos, destacou que os os segmentos relacionados ao consumo e ao setor imobiliário ficaram entre os destaques negativos da B3 porque tendem a registrar mais perdas em 2022 devido aos prognósticos não muito animadores diante da perspectiva de baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), na melhor das hipóteses, e da taxa básica da economia (Selic), atualmente em 9,25% ao ano, acima de dois dígitos.
“Algum setores que estavam tendo bom desempenho com o juros mais baixos devem ter desempenho pior em 2022 por conta da alta dos juros e da inflação mais elevada. O Brasil vem de uma crise recente e a expectativa é que o varejo e o setor imobiliário não devem ter um bom desempenho no ano que vem e isso já está sendo antecipado nos valores das ações deste ano”, afirmou Cruz.
O especialista lembrou que, no caso do setor financeiro, o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), as discussões na reforma tributária desfavoráveis aos bancos e a ampliação da concorrência com as startups que mexeram com um bloco que parecia muito consolidado. “As fintechs começaram a fazer barulho e o case da Nubank é emblemático, pois mostra que o market share desse setor dos grandes bancos começa a ter competição”, afirmou. Para ele, o mesmo deve ocorrer com as ações das empresas do setor de petróleo, que devem ter rendimento cada vez menores “na medida em que o mercado de carros elétricos avançar”.