RODOLFO COSTA
O DEM não faz parte da base do governo, mas evitou uma derrota para o Palácio do Planalto na tarde desta quarta-feira (12/6). O partido se mobilizou para, na Comissão de Segurança Pública da Câmara, barrar a votação que decidiria pelo convite ou não do jornalista Glenn Greenwald à Câmara. Ele é um dos fundadores do portal The Intercept, que, no domingo (9), publicou reportagens com base em vazamentos criminosos da troca de mensagens entre o ministro da Justiça, Sérgio Moro, e o coordenador da Operação Lava Jato em Curitiba, procurador Deltan Dallagnol.
A votação foi iniciada com base no requerimento 79/2019, de autoria do deputado Daniel Silveira (PSL-RJ), que solicitava o chamamento de Greenwald para a Câmara. Policial militar de carreira, o parlamentar acredita que, pela experiência profissional, em interrogatórios criminais, extrair explicações do jornalista sobre o vazamento das conversas. O problema é que a oposição embarcou junto e decidiu apoiar o convite com intuito de usar a presença e o conhecimento do jornalista sobre as informações encaminhadas a ele para atacar Moro.
O colegiado votou, primeiramente, a inclusão do requerimento na pauta. Foi aprovado por 20 a 3. Quando iniciou-se a apreciação do “mérito” do requerimento, foi aí que a estratégia do DEM começou. O plano montado pelo partido foi arrastar a votação até o início da Ordem do Dia no Plenário da Câmara. Deu certo. A oposição quis celeridade, mas o Democratas, evocando o Regimento Interno da Casa, cobrou para que todos os parlamentares do colegiado falassem e orientassem seu voto, sendo de bancada ou não.
Palanque
Foi o que aconteceu na reta final da sessão, quando o deputado Luis Miranda (DEM-DF) brigou para que fosse cumprido o tempo de fala solicitado pelo deputado Ronaldo Santini (PTB-RS). O petebista sugeriu que, além de Greenwald, fosse convidado para a comissão algum representante do Telegram, a operadora da plataforma de mensagens instantâneas em que Moro e Dallagnol trocaram mensagens. “Precisamos saber se houve vazamento ou grampeamento. Se houve vazamento deliberado, é preciso esclarecer ao mundo se o aplicativo tem alguma fragilidade”, analisou.
A conclusão das ponderações de Santini foram sucedidas pelo pedido de encaminhamento de bancada feito por Miranda, que voltou a se amparar no Regimento Interno para exigir do presidente do colegiado, Capitão Augusto (PL-SP), que desse a ele minutos para orientação do voto do DEM. “Vejam a felicidade da oposição (com a votação)”, iniciou o discurso. O demista ressaltou que, diferentemente de um convite feito por Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que coloca o convidado sob juramento, obrigando-o a dizer a verdade, o convite para a Comissão de Segurança não o obrigaria a ser transparente conforme os questionamentos feitos no colegiado. “O que a oposição quer é um palanque”, acusou. Ainda na votação do requerimento, o deputado Alexandre Leite (DEM-SP) ironizou o PSL ao orientar voto contrário. “Depois o Centrão é o DEM.”
“Bancada do Moro”
Em seguida após a orientação do voto contrário ao convite, o Plenário da Câmara iniciou a Ordem do Dia e, assim, a sessão foi interrompida. A agenda será retomada na próxima quarta-feira, de forma que o requerimento deva ser novamente votado para, depois, ser apreciado. O deputado Paulo Teixeira (PT-SP) riu ironicamente com o fim da sessão e criticou o movimento feito pelo DEM, chamando-o de “bancada do Moro.”
A tática usada pelo DEM foi elogiada pela líder do governo no Congresso, deputada Joice Hasselmann (PSL-SP). Em conversa privada com integrantes do partido, agradeceu pela intervenção no colegiado. A liderança, agora, vai se articular para evitar que o requerimento de Silveira volte a ser apresentado ou mesmo para barrar o convite formal a Greenwald na Câmara.