Em ata, Copom aumenta o uso da palavra “risco” de 15 para 20 vezes

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ROSANA HESSEL

Em meio ao bombardeio de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao nível da taxa básica de economia (Selic), de 13,75% ao ano, mesmo nível desde agosto de 2022, o Banco Central elevou de 15 para 20 vezes o uso da palavra risco na ata do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira (7/2), em relação ao documento de dezembro.

A ata do Copom foi ampliado de seis para sete páginas e ganhou nove parágrafos a mais em relação aos 23 da reunião anterior do colegiado de diretores da autoridade monetária, em um claro sinal de que não dá para baixar os juros apenas no gogó, como brada o presidente petista, diante da piora das perspectivas para a inflação deste ano e dos próximos e da demora para o governo em anunciar cortes de gastos ineficientes após ampliar o rombo fiscal do Orçamento deste ano de R$ 63,7 bilhões para R$ 231,6 bilhões com a aprovação da PEC da Transição.

No documento o Copom sobre e reunião da última semana, reforçou que segue vigilante, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica “por período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação” e repetiu a sinalização do comunicado passado, deixando a porta aberta para alta da Selic, se houver piora do quadro de riscos. “O Comitê reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, informou a ata.

Após o presidente Lula decretar o fim do teto de gastos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, tem prometido o novo arcabouço fiscal para abril. Logo, tudo indica que, antes da terceira reunião do Copom, em maio, não será possível reduzir a taxa Selic. O novo governo precisa mostrar a que veio, nao apenas falar bobagens e, com isso, pressionar o câmbio e piorar as previsões para os juros. Alguns agentes financeiros já estimam que não haverá espaço para queda da Selic até dezembro, na melhor das hipóteses.  O Itaú Unibanco já alertou que, se o governo quiser mexer na meta de inflação, atualmente em 3,25%, para 4,5%, como Lula sinalizou, há grandes chances de a Selic subir em vez de baixar, podendo chegar a 15% ainda neste ano.

Na posse do presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, Lula voltou a criticar a autonomia do Banco Central e do atual patamar da Selic.  Enquanto isso, a mediana das previsões do mercado para inflação deste ano avançou pela oitava semana seguida e chegou a 5,78%, cada vez mais distante do teto da meta para 2023, de 4,75%. Na de 2024, que passou para 3,93%, foi a terceira alta seguida.

Não à toa, o Copom alertou para a piora das projeções de inflação na ata e reforçou sua preocupação com a política fiscal do atual governo que está mais expansionista ao justificar a manutenção da Selic pela quarta reunião consecutiva.  A “elevada incerteza sobre o futuro do arcabouço fiscal do país e estímulos fiscais” são alguns dos principais motivos para a decisão  “O Comitê notou com especial preocupação a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos. Tal deterioração pode ter ocorrido por diversas razões, destacando-se, dentre esses fatores, uma possível percepção de leniência do Banco Central com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional, uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas”, frisou o texto.

Vicente Nunes