Operadora fez portabilidade de linha telefônica sem aval do cliente

Publicado em Economia

HAMILTON FERRARI

 

Uma confusão na linha telefônica tem atrapalhado os negócios do eletricista autônomo Silvio Augusto de Aquino, 53 anos. No mês de agosto, ele notou que o chip do celular estava sem sinal, sem receber chamadas e sem fazer ligações. Foi aí que procurou a loja da operadora Vivo e recebeu a notícia de que tinham feito uma portabilidade para outra empresa, a TIM, sem que ele tivesse assinado qualquer tipo de contrato.

 

Uma outra pessoa estava usando a linha telefônica que era de Silvio há mais de 20 anos sem a aprovação do cliente. Ao reclamar para os atendentes da Vivo, um funcionário pediu para que ele comprasse um outro chip para fazer o recadastro e deu um prazo para que voltasse ao local. A promessa era de solução em alguns dias. O atendente afirmou que ligaria com novidades sobre o processo.

 

“Essa ligação nunca aconteceu”, reclama Silvio. Sem poder usar o telefone, ele ficou desesperado com o problema. O eletricista mantém a lista dos contatos dos clientes no chip e depende do celular para o trabalho. “Sou casado, moro de aluguel e tenho passado dificuldades por causa disso. Dependo das ligações para fazer os serviços”, lamenta.

 

Depois de um mês insatisfeito com a morosidade do processo, foi novamente à loja da Vivo. Sem sucesso. Para piorar, Sílvio disse que passou por uma situação constrangedora. Um outro funcionário afirmou que ele teria que comprar um novo chip, porque o primeiro tinha queimado. Mesmo incomodado, Sílvio perguntou se, ao fazer isso, ele teria o número de telefone de volta. O atendente não deu certeza: “Só testando para saber”, disse ele.

 

Depois de perceber que teria mais um dia perdido, Sílvio pediu o protocolo do atendimento para ir embora. Segundo ele, antes de sair, o funcionário teria tirado uma foto da identidade do cliente e alegou que “mandaria a cópia do atendimento via e-mail”. O atendente pediu para o eletricista assinar um documento, mas ele se negou, pois percebeu que se tratava de um contrato.

 

Chegando em casa, Sílvio recebeu, na caixa de e-mail, um contrato que ele não tinha assinado. “O atendente assinou o contrato no meu lugar, falsificando a assinatura”, denunciou ele. O crime teria sido feito com a foto da assinatura de Silvio na carteira de identidade. A Vivo informou, em comunicado, que solicitou o envio de um novo chip para residência do cliente, a fim de regularizar o funcionamento da linha, mas não comentou a possível falsificação de assinatura.

 

Desespero

 

Precisando retomar os negócios a todo custo para pagar as contas, Silvio entrou na Justiça e acionou a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) diante da demora na resolução do problema. “Mas a agência e nada é a mesma coisa. Não dá respaldo algum. Ficam empurrando o problema para frente e não resolvem nada. Alegam que são os intermediadores do problema e que, quem realmente resolve, é a Justiça”, reclama.

 

A TIM informou que realizou uma consulta em seu sistema e o número apontado não consta na base de clientes atualmente. Depois do contato do Blog, a Vivo ligou para Silvio e, segundo ele, “disseram que foi a operadora TIM que cometeu o erro”, apesar de ele não ter assinado nenhum documento de portabilidade

 

Enquanto isso, Silvio está sem o contato da clientela. “Também fiquei sem acesso aos aplicativos de mensagens, que estavam me salvando. Apareceu uma mensagem no meu telefone dizendo que havia duplicidade na linha, e que teria que desinstalar o aplicativo para corrigir o erro”, afirmou. Depois de um dia, o celular voltou ao normal.

 

Ele diz que não entende como perdeu a linha telefônica de um dia para o outro. “Há 20 anos eu sou dono da linha telefônica. A portabilidade foi feita sem que eu assinasse nada. Eu me informei na época com a TIM, e os atendentes disseram que não tem como fazer uma portabilidade sem o respaldo da Anatel”, afirma.

 

Em nota, a Anatel informa que recebeu a demanda de Sílvio e foi registrada como “não concluída”. A agência comunica que o cliente pode ou não reabrir a queixa. A assessoria da agência diz que, ao receber a reclamação, ela é encaminhada para as prestadoras, exigindo que respondam diretamente ao consumidor. “Ao mesmo tempo, monitora o prazo e qualidade de respostas que são enviadas”, informa.

 

Brasília, 18h07min