>> RODOLFO COSTA
O ritmo da alta dos preços em 2019 vai depender muito dos candidatos vencedores das eleições em 2018. A depender do próximo presidente da República, da política econômica adotada pelo novo governo e da governabilidade do chefe do Executivo federal junto ao Congresso Nacional, a inflação pode disparar ou ser mais comedida. Tudo dependerá das medidas adotadas e da credibilidade do futuro ocupante do Palácio do Planalto junto à sociedade e aos mercados.
Ter, nas próximas eleições, um posicionamento claro dos presidenciáveis em relação ao sucessor de Henrique Meirelles no Ministério da Fazenda será importante para tranquilizar os donos do dinheiro. Também será importante a sinalização da escolha do futuro presidente do Banco Central (BC) e da próxima diretoria que será responsável por tocar a política monetária e controlar a inflação.
O consultor Carlos Eduardo de Freitas, ex-diretor do BC, destaca que a inflação desacelerou na atual gestão em boa parte pelas expectativas e a confiança dos mercados na política monetária. “A confiança no BC é muito grande e o mercado, os consumidores e produtores estão mais seguros de que a autoridade monetária não vai tolerar pressão inflacionária de forma passiva. O mesmo se espera da próxima equipe”, avalia. Se houver um bom diálogo com os mercados, Freitas não descarta a possibilidade de a inflação atingir variações entre 2,75% e 3,25% ao ano. “Vai ficar nessa faixa porque as expectativas estão devidamente ancoradas”, pondera.
No contexto atual de alta capacidade ociosa e desemprego, Freitas acredita que a carestia tem condições de se manter em um patamar baixo. Mas tudo dependerá de como o futuro governo vai lidar com o ajuste fiscal que, para ele, é imprescindível. Principalmente, por considerar que a reforma da Previdência ficará para 2019. “Acredito que tanto a atual proposta previdenciária quanto o teto de gastos já aprovado precisarão ser revistos. O teto, por exemplo, não será abandonado, mas redesenhado para se adequar a uma maior racionalidade econômica”, avalia.
O não comprometimento com a agenda de reformas, entretanto, pode custar o cargo do próximo presidente, adverte Freitas. “Um diagnóstico incorreto poderia provocar o aumento do dólar e elevar a inflação. É um cenário que poderia provocar até um caso de impeachment. O próximo presidente que não se comprometer com a agenda de reformas não vai conseguir resistir a uma pressão inflacionária e às taxas de juros”, alerta.
Ajuste fiscal
Mesmo os candidatos que, atualmente, bancam um discurso contra as reformas, como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, não poderão escapar de discutir o ajuste fiscal. Apesar de ser um candidato com amplo apelo eleitoral, de acordo com pesquisas, Lula é um presidenciável que, para Freitas, dificilmente passará credibilidade ao mercado. “Ele não tem moral. Não tenho mais dúvidas. Já me enganei e não me engano mais”, diz.
Ainda que Lula apresente uma proposta contrária às reformas na pré-candidatura, o economista Roberto Ellery, professor da Universidade de Brasília (UnB), acredita que ele poderá surpreender em caso de confirmar sua candidatura. “Ele tem uma capacidade de convencimento e diálogo com os setores da sociedade impressionantes. Há de se reconhecer que Lula tem, no histórico, uma reversão de expectativas muito grande, como ocorreu em 2003”, ressalta. A mesma qualidade, no entanto, ele não observa no outro candidato com maior apelo popular, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ).
O governo ainda não bateu o martelo sobre quem disputará as eleições com apoio do PMDB e de partidos da coligação. Mas, para Ellery, o candidato do governo seria um nome forte para dialogar com os agentes econômicos. E teria outro fator positivo: legitimidade. “Ganhando um candidato com um perfil de reforma, ele não teria o mesmo problema que Temer tem enfrentado. Se, nesse jogo político, o governo fortalecer um nome ligado às reformas, acho que ganhará uma sobrevida boa, com tempo para ajustar o campo fiscal”, sustenta.
A legitimidade, avalia Ellery, é um componente importante quando se trata do ajuste fiscal. “O presidente da Argentina, Mauricio Macri, por exemplo, pegou um país com uma inflação próxima de 24%, promoveu ajustes, inclusive, com direito a uma reforma da Previdência, aprovada na última semana”, destaca.
Brasília, 11h50min