“Se o próximo presidente pegar a proposta que está no Congresso, fazendo pequenas mudanças que estavam mais ou menos negociadas antes da intervenção no Rio de Janeiro, é só tocar o relatório, e, em três meses, é possível ter essa reforma”, explicou ele, em entrevista no programa CB.Poder, uma parceria entre o Correio e a Tevê Brasília. Ele admitiu, no entanto, que essa proposta não é a ideal e que, dentro de cinco anos, será necessário fazer uma nova reforma, mais ampla.
Segundo Camargo, a Previdência é o maior problema fiscal do país. “Hoje, 57% das despesas primárias do governo são com Previdência e assistência social”, destacou ele, lembrando que essas despesas equivalem a 13% do Produto Interno Bruto (PIB) e são destinadas a 9% da população brasileira com 65 anos ou mais. “Países com menos de 9% da população com 65 anos ou mais gastam, em média, 4,5% do PIB com Previdência e assistência social. Nós gastamos o triplo”, comparou. “Isso quer dizer que os outros 91% dos brasileiros têm que ser atendido com o que sobra. Mas, dos 43% que restam, algo em torno de 20% vão para pagar salários do funcionalismo público. O resto da população fica com uma pequena sobra”, emendou.
Doutor em economia pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos Estados Unidos, Camargo adiantou que o programa econômico que ele vem elaborando para Meirelles, inclui, além da reforma da Previdência, medidas para destravar o crescimento do país, como uma reforma do sistema orçamentário, redefinindo prioridades das vinculações obrigatórias; uma reforma tributária, simplificando o emaranhado de impostos existentes hoje; e a redução da renúncia tributária, ou seja, dos subsídios.
Na avaliação de Camargo, existe uma série de barreiras para a retomada do emprego e do crescimento da economia, sendo que uma das principais é o rombo fiscal “extremamente grande”. “É um deficit primário de 2% do PIB. São R$ 159 bilhões (previstos para este ano). Isso significa que o governo tem que financiar uma dívida sistematicamente, e isso faz com que as taxas de juros sejam sempre muito altas, o que gera menos crescimento, e, consequentemente, menos emprego”, resumiu.
Para o economista, o reequilíbrio das contas públicas será gradual e a volta do superavit primário (economia para o pagamento dos juros da dívida pública), só deverá ocorrer a partir de 2021 ou 2022, dependendo do ritmo de reação da economia ao longo desse período. “Não há espaço para aumento de imposto. A população não aceita”, frisou.
Segundo ele, apesar de os dados do mercado de trabalho serem conflitantes, o desemprego está caindo em ritmo mais acelerado, de 1,3 ponto de percentagem em 2017, contra 0,6 ponto ao ano entre 2002 e 2014. “A queda da taxa de desemprego vai ser mais rápida do que no passado por conta da reforma trabalhista”, afirmou. Ao mesmo tempo, ele ressaltou que o mercado de trabalho é o último a reagir depois de uma recessão.