A equipe liderada por Henrique Meirelles chegou ao governo de Michel Temer sob aplausos da maioria do mercado financeiro. Exaltada pela grande capacidade técnica, logo se tornou o esteio de uma administração claudicante, recheada de políticos suspeitos de corrupção. Todos os defeitos de Temer e de seus asseclas foram deixados de lado sob o argumento de que Meirelles e companhia seriam suficientes para dar um jeito no Brasil, que estava mergulhado na mais grave recessão da história.
A lua de mel dos investidores com o dream team foi cantada em verso em prosa. Poucas semanas depois da posse da equipe de Meirelles, já se dizia que o país estava deixando o pior momento para trás. Começaram a surgir estimativas muito positivas para a economia. Houve bancos, como o Bradesco, que chegaram a falar em crescimento de 2% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano e de 3% em 2018. Várias instituições embarcaram nessa onda de otimismo, inclusive o ministro da Fazenda.
O excesso de confiança da equipe econômica cresceu quando o governo conseguiu aprovar, no Congresso, o teto para os gastos. Aquele evento foi visto como um marco da administração pública. Meirelles e companhia sentenciaram que a farra fiscal chegava ao fim. Mas, já durante da discussão de Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos gastos, no Legislativo, tanto o governo quanto o mercado começavam a se dar conta de que a tão alardeada retomada da economia era uma farsa. A opção, porém, foi por ignorar a realidade.
A fragilidade da economia estava aprofundando o deficit público. Com a arrecadação em baixa, o governo passou a contar, desesperadamente, com receitas extras, como se viu muito na administração de Dilma Rousseff. A orientação na Fazenda e no Ministério do Planejamento, contudo, foi a de manter o discurso positivo, de que tudo estava caminhando como o previsto.
A soberba, por sinal, levou a um erro inadmissível no cálculo do deficit público de 2016. Primeiro, anunciou-se um rombo de R$ 154,2 bilhões. Recentemente, o Tesouro Nacional admitiu que o buraco, na verdade, havia sido de R$ 161,2 bilhões porque os técnicos tinham errado nos cálculos do Fies, o fundo de financiamento de estudantes universitários.
Agora, com a recessão ainda fazendo estrago, o desemprego alarmante, as empresas superendividadas, explicitou-se que a equipe econômica, que se apresentou como a salvação do país, que proclamou em alto e bom som que o Brasil havia, enfim, saído do atoleiro, não conseguiu fazer nada. O caos fiscal entregue por Dilma aumentou. E nem mesmo o aumento de impostos sobre combustíveis, que, por enquanto, está suspenso pela Justiça, será capaz ajudar o governo a cumprir a meta fiscal, de deficit de até R$ 139 bilhões neste ano.
O mito do dream team está se desfazendo. O Brasil caminha, rapidamente, para um apagão fiscal, sem dinheiro para cumprir a meta de deficit e com os serviços públicos à beira do colapso. O discurso bonito de Meirelles e companhia já não convence. O quadro que vemos hoje é o mesmo que antecedeu à queda de Joaquim Levy do Ministério da Fazenda. É incrível como esse filme de terror insiste em nos perturbar.
Brasília, 06h46min