Dólar sobe 1% na semana: a bola fora de Paulo Guedes

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Não há dúvidas de que esta foi uma péssima semana para o ministro da Economia, Paulo Guedes. Não bastasse a cobrança dentro do governo por um crescimento mais forte da economia, o ministro desandou a falar uma série de barbaridades, que serviram de estímulo para a arrancada dos preços do dólar.

Em Washington, onde tinha encontro com autoridades do governo dos Estados Unidos e com investidores, Guedes sugeriu a possível volta do AI-5, instrumento da ditadura, para combater possíveis manifestações nas ruas e disse que os preços do dólar poderiam subir, pois seria bom para as exportações.

O resultado de todo o desastre da bola fora de Guedes foi uma semana tensa no câmbio, que exigiu pesadas intervenções no mercado pelo Banco Central, inclusive vendendo parte das reservas internacionais do país. Mesmo assim, a moeda norte-americana encerrou a semana com alta de 1%, cotada a R$ 4,23 para venda.

Na quarta-feira (27/11), talvez o dia mais tenso, o dólar chegou a bater em R$ 4,27, nível que o Banco Central já considera preocupante, devido aos impactos que pode ter na inflação. Para o BC, um dólar neste momento acima de R$ 4,30 seria muito ruim para os índices de preços, que vêm se mantendo abaixo da meta perseguida pela autoridade monetária.

Juros

Vários economistas, por sinal, levantaram a possibilidade de o BC suspender a queda dos juros em dezembro. Em comunicado após a última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), a diretoria do banco se comprometeu em cortar a taxa básica de juros (Selic) em mais 0,5 ponto percentual, dos atuais 5% para 4,5% ao ano.

O desconforto com as declarações de Guedes foi visível mesmo dentro da equipe econômica. Vários técnicos não esconderam o incômodo com o descontrole verbal do ministro, sobretudo por expôr sua visão autoritária, ao defender um instrumento que deu início ao período mais duro do regime militar que vigorou no país por 20 anos. O AI-5 foi editado em 1968.

Fala-se, inclusive, na possibilidade de alguns integrantes da equipe econômica deixarem o governo. Esse desejo é mais latente no secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, que só não deixou a função devido aos insistentes pedidos de Guedes.

No Congresso e mesmo na Esplanada, já se cogita, inclusive, a saída do próprio Guedes ao longo de 2020, principalmente se a economia não reagir a contento até antes das eleições presidenciais. O presidente Jair Bolsonaro não quer dar munição aos críticos quando terá seu maior teste de popularidade antes de partir para a campanha à reeleição de 2022.

Guedes, que começou como superministro, vai, aos poucos, desencantando aqueles que o colocaram no pedestal, seja porque não está entregando tudo o que prometeu, seja porque se descobriu que ele é muito afeito a gestos autoritários. De bola em bola fora, o ministro pode estar cavando sua saída do governo. Bolsonaro tem certeza de que não lhe deve lealdade.

Brasília, 17h43min

Vicente Nunes