Dividendos de bancos recuam em ritmo mais acelerado do que lucros

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ROSANA HESSEL

As ações de bancos sempre foram as ações mais procuradas pelos investidores por pagarem mais dividendos. Mas a crise da covid-19 pode mudar esse cenário. Dados levantados pela Economática junto às quatro maiores instituições financeiras do país que têm ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (B3) mostram que os pagamentos de dividendos aos acionistas das instituições financeiras recuaram em ritmo maior do que o dos lucros neste ano.

No segundo trimestre de 2020, Bradesco, Itaú Unibanco, Santander e Banco do Brasil registraram lucro líquido de R$ 12,165 bilhões, dado 40,6% inferior ao registrado no mesmo período de 2019. Na comparação com o trimestre anterior, a queda foi de 11,6%, segundo os dados da Economática com base nos balanços divulgados pelas instituições financeiras.

O aumento nas provisões para devedores duvidosos tem reduzido a rentabilidade dos bancos e afetando a rentabilidade dos acionistas. Conforme o levantamento, os dividendos pagos por esses bancos entre abril e junho somaram R$ 1,986 bilhão, volume 41,38% inferior ao registrado no mesmo intervalo do ano passado. Já na comparação com primeiro trimestre do ano, ou seja, na margem, o tombo foi bem maior: de 90,5%.

“A queda dos dividendos foi por que o Banco Central permitiu aos bancos limitarem pagamento de dividendos em 25% do lucro. No ano passado, pagavam muito mais que os 25%. Já os lucros caíram devido ao momento econômico que o mundo passa”, explicou o gerente de relacionamento institucional da Economática, Einar Rivero.

O único banco que não apresentou distribuição de dividendos no segundo trimestre foi o Banco do Brasil, de acordo com os dados da consultoria. No primeiro trimestre, o pagamento de dividendos do BB somou R$ 3 bilhões, o triplo do volume desembolsado nos três meses anteriores.

Riscos

Apesar da mudança de regras, a queda no pagamentos de dividendos dos bancos chama a atenção para um movimento que os investidores da B3 devem prestar a atenção daqui para frente, porque pode ser uma tendência mesmo com a Bolsa seguir acima de 100 mil pontos. Esse patamar elevado vem sendo mantido, em grande parte, devido ao aumento do fluxo de entrada de investidores domésticos enquanto as aplicações em renda fixa perde atratividade. Mas riscos aumentam no meio da pandemia de covid-19 que está jogando o mundo em uma recessão sem precedentes. Não há dúvidas de que a rentabilidade da maioria das empresas listadas na Bolsa será afetada.

“Com os juros baixos e aplicações, como a poupança, perdendo para a inflação, a renda variável virou uma alternativa de investimento. Mas é preciso ter cuidado. Estamos vendo as ações subindo em meio a uma crise grave enquanto o país está indo para a lona Essa supervalorização está criando um movimento perigoso, onde uma minoria pode lucrar e a grande massa tem grande risco de perder quando as empresas  começarem a reportar prejuízos”, alertou a economista Juliana Inhasz, professora do Insper.

Vale lembrar que os investidores estrangeiros não são tão confiantes com a B3 como os brasileiros, que não estão tendo muito para onde ir nesse cenário de juros básicos no menor patamar da história. Em dezembro do ano passado, o total de aplicadores pessoa física era de 1,6 milhão e esse número é crescente. Em julho, a Bolsa registrou 2,8 milhões de investidores pessoa física.

Na contramão, o volume da saída de recursos de investidores não residentes da B3 continua recorde e acima de R$ 80 bilhões no acumulado do ano. Os dados da B3 mostram que, até o último dia 6, a saída de estrangeiros somava R$ 81,7 bilhões. Portanto, cautela em meio à crise é o melhor remédio para quem não quer ter surpresas desagradáveis.

Vicente Nunes