DESCRÉDITO GERAL

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Desde que Nelson Barbosa assumiu o comando do Ministério da Fazenda, a economia aprofundou a recessão e a desconfiança em relação ao governo atingiu níveis assustadores. A cada semana, as projeções para o Produto Interno Bruto (PIB) pioram — há o risco de a retração neste ano chegar a 4% — e são poucos os que acreditam na capacidade do Banco Central de levar a inflação para o centro da meta, de 4,5%, até o fim de 2017, como prometido pela instituição.

 

Esperava-se que, nesse ambiente tão hostil, Barbosa trabalhasse firme para reconstruir a credibilidade que perdeu ao despontar, no primeiro mandato de Dilma Rousseff, como um dos mentores da terrível nova matriz econômica, que empurrou o país para o buraco. Pois o ministro vem fazendo exatamente o contrário. A cada proposta anunciada para reativar a economia e ajustar as contas públicas, ele só alimenta a visão negativa que os agentes econômicos têm dele.

 

O primeiro grande ato de Barbosa foi apresentar um pacote de estímulo ao crédito, de R$ 83 bilhões, que lembra, em muitos detalhes, a política de estímulos à atividade que vigorou nos quatro primeiros anos de Dilma. Na base das medidas estão os bancos públicos, que foram usados, sem constrangimento, para pedalar as manobras fiscais da Fazenda. Agora, o ministro, para posar de bom moço, fala em propor limites para os gastos públicos. Mas o que ele quer mesmo é instituir a banda fiscal, de forma a flexibilizar o ajuste que o país tanto precisa para voltar a crescer.

 

A percepção entre os investidores é de que, além de mostrar um descompromisso do governo com a arrumação das contas públicas, as propostas de Barbosa podem fazer um estrago na Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que, ressalte-se, a atual administração burlou em vários momentos. Ainda que não seja a lei ideal que o Brasil precisa, ela conseguiu limitar a farra com o dinheiro dos contribuintes em todos os níveis de governo. Abrir brechas para mexer na LRF na atual conjuntura é um risco desnecessário que o país não precisa correr. Isso só interessa aos mal-intencionados.

 

Motivo de chacota

 

A desconfiança em relação a Barbosa seria, por si só, um problema gigante para o país. Mas o descrédito do ministro da Fazenda vem acompanhado da ruína da imagem do Banco Central. Nos processos de avaliação que, periodicamente, os agentes econômicos fazem da instituição, a falta de credibilidade só aumenta. Pouquíssimos acreditam na independência da política monetária. Muitos ressaltam a ineficiência do BC para controlar a inflação e definem como caótico o processo de comunicação com a sociedade.

 

A recente decisão do presidente do BC, Alexandre Tombini, de quebrar todos os protocolos e soltar um comunicado em dia de reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), dizendo exatamente o contrário do que pregava havia dois meses, agravou a situação. Pior: a instituição virou motivo de chacota no exterior, onde a credibilidade do BC ainda se mantinha intocada. Quem ratifica esse quadro desabonador é o co-diretor do Banco Central da Colômbia, Carlos Gustavo Cano. Para ele, a política monetária do Brasil é “exemplo espetacular do que não se deve fazer”.

 

Nesse contexto, com a Fazenda e o BC tão malvistos, é difícil esperar uma virada na economia. Se algo pode acontecer, dizem os especialistas, será para pior. O país, ao que tudo indica, poderá ter um 2016 igual ou pior do que 2015, com o nível de atividade afundando e a inflação açoitando o orçamento das famílias. Será uma tragédia, com custos sociais elevadíssimos, como o desemprego, que parece ter chegado com tudo.

 

Balão de ensaio

 

Para os agentes econômicos, dado o histórico da atual administração, nem mesmo o anúncio de uma possível reforma da Previdência Social, cujo modelo atual é insustentável, anima. São várias as razões, a começar pela falta de um projeto do governo, que está dividido sobre as mudanças, fato que o ministro do Trabalho e da Previdência, Miguel Rossetto, faz questão de deixar claro. Além disso, o PT, o partido de Dilma, está completamente contra e as centrais sindicais já avisaram que vão bombardear todas as propostas.

 

O que o governo tem feito, no entender dos investidores, é lançar balões de ensaio para tentar mostrar que não está morto. Mas entre as demonstrações de força e a realidade há uma distância enorme. A verdade é que o país está numa caminhada rápida para o esfacelamento. Chegou-se a um estágio em que, se não piorar mais, já está bom. Mas esse, como certeza, não o Brasil que queremos e merecemos.

 

Brasília, 08h30min