Os petistas mais aguerridos tentam manter a tropa unida, mas dentro da campanha do candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, o clima é de total desânimo. Ninguém vai admitir que a toalha já foi jogada, mas a derrota para Jair Bolsonaro (PSL) no domingo, 28 de outubro, já foi assimilada. “É quase impossível reverter a diferença de votos”, diz um graduado petista que foi reeleito para o Congresso.
A ordem, agora, é evitar que Haddad tenha menos votos no segundo turno do que no primeiro. Os coordenadores da campanha não descartam tal possibilidade, diante do forte aumento da rejeição do petista. Eles lembram que isso já aconteceu com Geraldo Alckmin, do PSDB, em 2006. “O tiroteio contra Haddad, sobretudo por meio de fake news, está enorme. Isso, sim, pode tirar votos dele”, ressalta o mesmo petista.
Além do desânimo, há um certa irritação dentro da campanha de Haddad. Uma ala mais realista diz que o PT errou demais na estratégia da candidatura do ex-prefeito de São Paulo. Algumas decisões só fizeram aumentar o sentimento anti-PT que vai eleger Bolsonaro. “Houve erros por todos os lados, a começar pela demora em lançar Haddad como candidato”, reconhece outro cacique petista.
O PT, acrescenta um integrante da campanha de Haddad, sairá menor das eleições, ainda que tenha feito uma bancada relevante na Câmara e vencido com vários governadores. “Se não assumirmos isso, só tenderemos ao encolhimento. Seguiremos o mesmo caminho do PSDB, que implodiu”, afirma.
A última estratégia da campanha de Haddad será mudar a agenda do candidato, muito centrada em São Paulo, onde a rejeição ao PT é avassaladora. Desde que terminou o primeiro turno, ele passou a maior parte do tempo no estado, o que não acrescentou nada em termos de votos. “Haddad deveria ter mergulhado em áreas onde o PT ainda é forte”, frisa um deputado eleito pelo partido.
Há, ainda, outro problema. Tem muita gente da cúpula do PT jogando contra Haddad. São pessoas que representam tudo o que os eleitores estão rejeitando no partido. Haddad, infelizmente, não conseguiu se desvencilhar das figuras que o eleitorado mais associa à corrupção. “Haddad não teve forças para assumir o comando da própria campanha. Isso é visível”, complementa o mesmo deputado.
Brasília, 19h05min