No Planalto, o que se diz é que, mesmo com todas as dificuldades políticas e a visível redução da base de apoio parlamentar de Temer, o governo está entregando tudo o que o BC vem pedindo, vide a reforma trabalhista. Mas, no entender de assessores palacianos, o que realmente está facilitando o trabalho do BC é a queda da inflação. Ontem, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que o Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M) acelerou a deflação e registrou tombo de 0,95% na primeira prévia de julho, recuo quase duas vezes maior que o observado no mesmo período de junho (0,51%). Há quem acredite que a inflação ao consumidor pode registrar queda pelo segundo mês seguido.
Quem acompanha o dia a dia do BC, no entanto, crê ser difícil o time comandado por Ilan Goldfajn avançar tanto o sinal. Ilan já fez uma confissão de culpa de que a instituição errou no comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio. No documento, a instituição indicou que, diante do aumento das incertezas políticas, reduziria o ritmo de baixa da Selic, de um ponto percentual para 0,75 ponto. Como, porém, a inflação continuou desabando, o presidente do BC foi obrigado a assumir publicamente que o ritmo de corte está mais para um ponto. Daí a acreditar que ele passará a indicar uma redução ainda maior dos juros neste mês requer um otimismo excessivo.
Previdência
De uma certa forma, os investidores já vinham antecipando a aprovação da reforma trabalhista por meio de altas consecutivas na bolsa de valores e de quedas sucessivas nos preços do dólar. Só não esperavam que Temer conseguisse a vitória com o máximo de votos previstos nas projeções de analistas. A tendência é de haver uma divisão no mercado. Uma parte passará a acreditar que o presidente ficou um pouco mais forte no Congresso; outra permanecerá trabalhando com a substituição dele pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem pensamento muito alinhado ao dos donos do dinheiro.
Independentemente da visão, a maioria dos investidores não acredita na aprovação da reforma da Previdência neste ano, nem com Temer, nem com Maia no comando do país. Uma coisa é aprovar, por maioria simples, a reforma trabalhista que tem todo o apoio do capital. Outra é conseguir apoio de dois terços do Congresso para tratar de um tema que mexe muito com a população, que rejeita o governo. A expectativa dos especialistas é de que, na melhor das hipóteses, o Planalto consiga fazer parte das alterações no sistema de aposentadorias e pensões por meio de medida provisória. As alterações corresponderiam a 40% das propostas que estão no projeto encaminhado ao Legislativo.
Um ministro muito próximo a Temer reconhece que o governo realmente não tem força, neste momento, para levar adiante a reforma da Previdência. “Mas ganhamos muito fôlego com a aprovação da reforma trabalhista”, diz. Para ele, a prioridade, agora, é que o presidente consiga barrar, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a aceitação de denúncia por corrupção passiva feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Se obtiver os votos necessários, Temer mudará de patamar. Aqueles que o consideravam morto terão que rever esse pensamento”, destaca.
A orientação do Planalto, fechada ontem à noite com Temer, é de que a tropa de choque governista domine a cena na retomada das discussões da CCJ nesta quarta-feira. “Temos que mostrar força e liquidar a fatura logo”, recomenda o presidente, segundo o ministro. Aos aliados o peemedebista garante que, superada a denúncia da PGR, nada mais o impedirá de levar adiante o mandato até o fim de 2018. Temer está convencido de que, pós-CCJ, estará blindado de quaisquer outros ataques. E aqueles que ficarem ao seu lado até a batalha final serão muito bem recompensados. A caneta presidencial estará mais ativa do que nunca.