Depois da vitória no Senado, com a aprovação da reforma trabalhista — o placar de 50 votos a favor e 26 contra, por sinal, foi muito favorável ao Palácio do Planalto —, o governo vai intensificar o discurso de que a economia finalmente engrenou e pode surpreender neste ano. O presidente Michel Temer está convencido de que, se ainda lhe resta um pilar de sustentação, ele está na atividade econômica, que parece se descolar da política. Assessores de Temer, inclusive, não descartam a possibilidade de o Banco Central acelerar o passo além do esperado pelo mercado e cortar a taxa básica de juros (Selic) em 1,25 ponto percentual no fim deste mês, dos atuais 10,25% para 9% ao ano. Essa expectativa era muito forte até 17 de maio, quando o país foi surpreendido com a denúncia contra Temer feita pelos irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS.
No Planalto, o que se diz é que, mesmo com todas as dificuldades políticas e a visível redução da base de apoio parlamentar de Temer, o governo está entregando tudo o que o BC vem pedindo, vide a reforma trabalhista. Mas, no entender de assessores palacianos, o que realmente está facilitando o trabalho do BC é a queda da inflação. Ontem, a Fundação Getulio Vargas (FGV) informou que o Índice Geral de Preços — Mercado (IGP-M) acelerou a deflação e registrou tombo de 0,95% na primeira prévia de julho, recuo quase duas vezes maior que o observado no mesmo período de junho (0,51%). Há quem acredite que a inflação ao consumidor pode registrar queda pelo segundo mês seguido.
Quem acompanha o dia a dia do BC, no entanto, crê ser difícil o time comandado por Ilan Goldfajn avançar tanto o sinal. Ilan já fez uma confissão de culpa de que a instituição errou no comunicado da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio. No documento, a instituição indicou que, diante do aumento das incertezas políticas, reduziria o ritmo de baixa da Selic, de um ponto percentual para 0,75 ponto. Como, porém, a inflação continuou desabando, o presidente do BC foi obrigado a assumir publicamente que o ritmo de corte está mais para um ponto. Daí a acreditar que ele passará a indicar uma redução ainda maior dos juros neste mês requer um otimismo excessivo.
Previdência
De uma certa forma, os investidores já vinham antecipando a aprovação da reforma trabalhista por meio de altas consecutivas na bolsa de valores e de quedas sucessivas nos preços do dólar. Só não esperavam que Temer conseguisse a vitória com o máximo de votos previstos nas projeções de analistas. A tendência é de haver uma divisão no mercado. Uma parte passará a acreditar que o presidente ficou um pouco mais forte no Congresso; outra permanecerá trabalhando com a substituição dele pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia, que tem pensamento muito alinhado ao dos donos do dinheiro.
Independentemente da visão, a maioria dos investidores não acredita na aprovação da reforma da Previdência neste ano, nem com Temer, nem com Maia no comando do país. Uma coisa é aprovar, por maioria simples, a reforma trabalhista que tem todo o apoio do capital. Outra é conseguir apoio de dois terços do Congresso para tratar de um tema que mexe muito com a população, que rejeita o governo. A expectativa dos especialistas é de que, na melhor das hipóteses, o Planalto consiga fazer parte das alterações no sistema de aposentadorias e pensões por meio de medida provisória. As alterações corresponderiam a 40% das propostas que estão no projeto encaminhado ao Legislativo.
Um ministro muito próximo a Temer reconhece que o governo realmente não tem força, neste momento, para levar adiante a reforma da Previdência. “Mas ganhamos muito fôlego com a aprovação da reforma trabalhista”, diz. Para ele, a prioridade, agora, é que o presidente consiga barrar, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a aceitação de denúncia por corrupção passiva feita pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. “Se obtiver os votos necessários, Temer mudará de patamar. Aqueles que o consideravam morto terão que rever esse pensamento”, destaca.
A orientação do Planalto, fechada ontem à noite com Temer, é de que a tropa de choque governista domine a cena na retomada das discussões da CCJ nesta quarta-feira. “Temos que mostrar força e liquidar a fatura logo”, recomenda o presidente, segundo o ministro. Aos aliados o peemedebista garante que, superada a denúncia da PGR, nada mais o impedirá de levar adiante o mandato até o fim de 2018. Temer está convencido de que, pós-CCJ, estará blindado de quaisquer outros ataques. E aqueles que ficarem ao seu lado até a batalha final serão muito bem recompensados. A caneta presidencial estará mais ativa do que nunca.