Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão. Crédito: Maurenilson Freire/CB/D.A Press. Homem olha engrenagens com cifrão.

Dados da indústria e de confiança de empresários mostram queda em junho

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Dois indicadores divulgados nesta terça-feira (2/8) mostram bem que a economia brasileira está com dificuldades para crescer neste ano e no próximo e, portanto, não consegue decolar no ritmo que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenta vender aos desavisados e pouco atentos aos dados macroeconômicos.

 

Conforme dados da Pesquisa Mensal Industrial (PIM), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção industrial encolheu 0,4%, no mês de junho, na comparação com maio. Foi a primeira queda após quatro meses de alta. Em relação ao mesmo intervalo de 2021, o recuo foi 0,5%.

 

No primeiro semestre do ano, a indústria acumula queda de 2,2% e, no acumulado em 12 meses até junho, o tombo foi de 2,8%, conforme os dados do IBGE. O órgão ligado ao Ministério da Economia informou que três das quatro grandes categorias econômicas e 15 dos 26 ramos pesquisados mostraram queda na produção. Com isso, o setor industrial ainda se encontra 1,5% abaixo do patamar pré-pandemia (fevereiro de 2020) e 18,0% abaixo do nível recorde alcançado em maio de 2011.

 

Entre as atividades, as influências negativas mais importantes foram as registradas pela indústria de produtos farmoquímicos e farmacêuticos (-14,1%) e coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (-1,3%), com ambas interrompendo os avanços registrados nos meses de abril e maio de 2022 e que acumularam crescimento de 5,3% e 5%, respectivamente, segundo o IBGE. Outras contribuições negativas relevantes sobre o total da indústria vieram de máquinas e equipamentos (-2,0%), de metalurgia (-1,8%), de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (-2,8%) e de outros equipamentos de transporte (-5,5%).

 

Confiança encolhe

 

A Índice de Confiança do Agronegócio (Icagro), da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), fechou o segundo trimestre com queda de 1,2 ponto em relação ao levantamento anterior, para 110,3 pontos. ” aumento da preocupação com a economia pesou no resultado. As entrevistas foram realizadas num momento em que se consolidaram as perspectivas de uma desaceleração econômica, puxada pela alta dos juros para combater a inflação – o que no caso brasileiro levou a uma elevação do
risco e a uma queda nas projeções de crescimento para 2023″, destacou a nota da entidade.

 

Apesar da queda, o índice permanece num patamar moderadamente otimista, acima de 100 pontos – abaixo disso, o nível de confiança passa a ser considerado pessimista, de acordo com a metodologia do estudo. Já o Índice de Confiança das Indústrias (Antes e Depois da Porteira) apresentou queda de 1,4 ponto, para 113,1 pontos.

 

A Fiesp também divulgou uma nota comentando o resultado da PIM, do IBGE, destacando que a queda mensal de 0,4% foi maior do que a expectativa do mercado (de -0,3%), puxada pela indústria da transformação, que encolheu 0,3% enquanto a indústria extrativa registrou avanço de 1,9%. A entidade informou ainda que prevê queda de 0,9% da produção industrial em 2022.

 

Enquanto isso, diante de mais uma alta na taxa básica de juros (Selic) na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que começou hoje e termina amanhã, as estimativas do mercado para o PIB de 2023 não para de ser revisada para baixo, por conta das estimativas pouco animadoras sobre os impactos do aperto nos juros do Banco Central que está em curso — atualmente, a mediana das previsões do mercado para o PIB do ano que vem é de alta de 0,4% (abaixo dos 0,49% da semana passada).

 

Resta saber se o BC vai continuar independente e fazer o trabalho dele, ignorando os impactos na economia que podem atrapalhar os planos de reeleição do presidente Jair Bolsonaro (PL). O processo de alta da taxa Selic, iniciado em março de 2021, pode não terminar neste mês. A maioria das apostas é de alta de 0,50 ponto percentual.  Mas, mesmo as projeções do mercado para os juros no fim do ano, de 13,75%,não são suficientes para colocar a inflação abaixo do teto da meta de 2023, de 4,75%. Boa parte dos analistas não descarta que os juros básicos podem ficar acima de 14,25% no fim do ciclo.