Críticas de Bolsonaro mantêm governo isolado

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RODOLFO COSTA

O presidente Jair Bolsonaro está se isolando politicamente a passos largos. A crítica aos manifestantes nos atos de protesto em todo o país nesta quarta-feira (15/5), piorou o que era ruim. Ao dizer que estudantes e professores em manifestação contra o contingenciamento de verbas para a educação são “massa de manobra” e “idiotas úteis”, o chefe do Executivo federal ampliou o desconforto com o Congresso e distanciou partidos que vinham sinalizando uma proximidade com o governo.

Ficou mais difícil defender ou apoiar um governo cujo presidente hostiliza manifestantes no primeiro grande ato social contra a gestão Bolsonaro, explicam líderes partidários ao Blog. A principal indignação é de que o chefe do Palácio do Planalto não ajuda a aproximar nem quem tenta apoiá-lo. É o caso de partidos como Podemos, PSC, Cidadania, Pros, PV e Patriota. Na terça-feira (15/5), Bolsonaro recebeu os líderes desses partidos e se comprometeu a suspender o contingenciamento de recursos para a educação.

Na frente dos líderes, Bolsonaro ligou para o ministro da Educação, Abraham Weintraub, e pediu que o titular da pasta revisasse o popularmente conhecido “corte” nas verbas. A ligação e o compromisso foi firmado sem a presença do ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que chegou ao fim da reunião. Ali, as lideranças haviam sinalizado às suas bancadas no Congresso e às bases eleitorais, por meio das redes sociais, a promessa do presidente.

Por pressão de Onyx, respaldado por Weintraub e o ministro da Economia, Paulo Guedes, Bolsonaro foi aconselhado a voltar atrás no compromisso com os líderes partidários. Tarde demais. Os parlamentares já haviam informado o contrário. O desconforto foi grande e ecoou nesta quarta-feira entre lideranças de outras bancadas. O próprio líder do PSL, Delegado Waldir, que também participou da reunião, admitiu que o presidente havia se comprometido a suspender o contingenciamento.

Em se tratando de uma promessa de revisar os cortes sobre a educação que não se concretizou, Bolsonaro colocou os líderes em uma situação incômoda junto aos seus eleitores. Na prática, os fez passar por mentirosos, uma vez que Bolsonaro não foi a pública esclarecer o equívoco cometido por ele mesmo. “Isso gera um desconforto e uma instabilidade muito grande. Quem manda no governo? O presidente, que fala uma coisa, ou a equipe, que o faz voltar atrás depois?”, criticou um líder partidário ao Blog.

Incômodo

O problema no constrangimento provocado aos líderes é que, sobretudo Podemos, PSC, Cidadania, Pros e PV, vinham executando movimentos de apoio ao governo. A sinalização mais clara vinha sendo feita no sentido de derrubar no Plenário da Câmara o relatório aprovado na Comissão Especial da Medida Provisória (MP) 870, que trata sobre a reforma administrativa. Os partidos desejam evitar a transferência do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) do Ministério da Justiça para o Ministério da Economia e barrar a recriação dos ministérios das Cidades e da Integração Nacional, por meio do desmembramento do Ministério do Desenvolvimento Regional.

A articulação junto aos líderes desses partidos vem sendo feita pelo líder do governo na Câmara, Major Vitor Hugo (PSL-GO). A ideia do parlamentar é construir uma base de apoio ao governo com essas bancadas. No entanto, faltou dialogar com Onyx, que, dizem assessores palacianos, trabalha para neutralizar Vitor Hugo. Sem ter a ver com a disputa interna na interlocução do governo, o incômodo provocado por Bolsonaro às lideranças fez com que, quem cogitasse ser base, agora, pensa em se manter neutro e apoiar pauta a pauta, de acordo com o tema.

O clima piorou quando Bolsonaro hostilizou os manifestantes. Já não havia unanimidade dentro do Podemos, PSC, Cidadania, Pros e PV para compor a base do governo. A ideia era muito mais de se afastar do Centrão do que se associar ao Planalto. Mas as críticas do presidente aos estudantes e professores azedou de vez os diálogos por um relacionamento mais íntimo, afirmam líderes. “Vamos permanecer independentes”, declarou um deles ao Blog. A prova disso é que, entre todas as bancadas da Câmara, apenas o Novo e o PSL orientaram voto contrário ao requerimento votado na terça-feira (14) no Plenário da Câmara para a convocação de Weintraub nesta quarta.

Vicente Nunes