Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados/Rosana Hessel/DAPress

Crescimento do PIB brasileiro é “voo de galinha”, alerta MB

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

 

Assim como o Fundo Monetário Internacional (FMI), a MB Associados melhorou as projeções de crescimento Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro neste ano, mas reforçou as estimativas de desaceleração da economia no ano que vem, alertando para o fato de que o avanço da economia é um mero “voo de galinha”, ou seja, curto e pouco sustentável.

 

Conforme as novas estimativas da MB, o PIB brasileiro deste ano deverá crescer 2,6% e, depois vai desacelerar para 0,5%, em 2023, taxa que não foi alterada, diante da deterioração para o cenário macroeconômico no ano que vem. Segundo Sergio Vale, economista-chefe da MB, a melhora nas projeções deste ano está relacionada à saída da pandemia e ao aumento dos preços das commodities. “Mas fica a dúvida para 2023. Se o crescimento for estrutural, podemos repetir esse número, mas se for um novo ‘voo de galinha’ o cenário será diferente”, alertou. Segundo ele, a economia não tem condições de crescer no mesmo nı́vel de 2022 no ano que vem, independentemente de quem ganhar as eleições no próximo dia 30.

 

“A indústria e a construção devem sentir o impacto da alta de juros com mais força, também sendo impactados, especialmente no caso da indústria, pela crise externa. Do lado da demanda, o consumo das famı́lias e os investimentos tendem a sofrer os impactos da alta de juros aqui e lá fora”, explicou Sergio Vale, no relatório divulgado nesta quinta-feira (13/10).  Ele elencou várias razões de preocupação para 2023: a taxa real de juros já começa a trazer efeitos na demanda regional e setorial de crédito bem como na inadimplência; as commodities começaram a desacelerar o crescimento; o efeito pandemia nos serviços terá definitivamente passado; o mundo em recessão deverá diminuir nosso crescimento assim como o foi em 2008; a crise externa deve levar o próximo presidente a lançar mão de mais gastos fiscais de curto prazo e; não haverá crescimento sustentável sem estabilidade polı́tica. “Duvidamos de um crescimento forte no ano que vem, sendo mais razoável dizer que tende a ser mais fraco do que foi em 2022. Vai ser um voo de galinha magricela”, reforçou Vale.

 

De acordo com o analista da MB, a taxa básica de juros (Selic), atualmente em 13,75%, deve permanecer elevada pelo menos até metade do ano que vem. O maior empecilho para uma queda mais forte advém do fiscal. “O Banco Central só vai se movimentar depois de saber o que será o novo regime fiscal e se ele será aprovado e crı́vel o suficiente para as expectativas de inflação cederem e o BC poder começar a baixar
os juros com mais tranquilidade. Mas só saberemos disso na metade do ano que vem provavelmente, o que significa que a Selic deve cair com lentidão, chegando a 11,5% no fim do ano que vem”, destacou.

 

O economista melhorou as projeções para o mercado de trabalho, reduzindo as estimativas da taxa de desemprego, antes em torno de 10%, para 9,6%, neste ano. “Aqui há efeito da reforma trabalhista de 2017 que trouxe flexibilidade para o emprego e impacto positivo das commodities, que ajudam na expansão da renda e emprego das regiões ligadas ao agronegócio. Para o ano que vem, a expectativa é de queda mais moderada, para 9,2% por conta da desaceleração esperada da economia. Vale dizer que essa retomada mais forte do emprego e da massa real de renda, que está crescendo 6,1% no último trimestre encerrado em agosto, dá sinais de uma preocupação crescente com a demanda”, acrescentou. Pelas projeções da MB, segundo Vale, o hiato do PIB já está em terreno positivo neste segundo semestre e tende a pressionar a inflação no curto prazo, mas, como o crescimento tende a ser baixo, essa pressão inflacionária poderá ser menor.

 

As novas projeções do FMI para o crescimento PIB brasileiro de 2022, divulgadas no último dia 11, passaram de 1,7% para 2,8%, mas o Fundo também prevê desaceleração no crescimento no ano que vem e fez alerta para o risco de recessão global. Embora um pouco mais otimista, pois estima alta de 1,1% no PIB de 2023.