Diante desse cenário, o Credit fez um alerta para esse cenário diante da alta da inflação e a piora do quadro fiscal, com o abandono da última âncora vigente. “A economia do Brasil está em um círculo vicioso, o baixo crescimento econômico, que aumenta a pressão política para aumentar os gastos, o que leva a inflação mais alta, porque as contas públicas estão em uma trajetória insustentável, depreciação da taxa de câmbio e menor crescimento econômico”, destacou o documento elaborado pela equipe chefiada pela economista-chefe do Credit, Solange Srour. Segundo ela, o país não conseguirá sair dessa armadilha sem retomar a agenda de reformas estruturantes, como a tributária e a administrativa, algo que só deverá ocorrer a partir de 2023, ou seja, no próximo governo.
“O fraco desempenho da economia, nos últimos anos, reforça a necessidade de empurrá-la para fora dessa armadilha econômica por meio de um robusto processo de consolidação fiscal e reformas que tornem a economia mais competitiva e eficiente, como a simplificação do sistema tributário — melhorando o ambiente de negócios, aumentando a flexibilidade do mercado de trabalho –, a privatização e a abertura comercial”, acrescentou o estudo.
Nova recessão
Com a deterioração do cenário fiscal e econômico, as projeções do banco suíço indicam que, em 2022, o Brasil deve entrar em outra recessão, “a terceira nos últimos oito anos”. Depois de crescer 4,8%, neste ano, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro vai encolher 0,5% e corre o risco de continuar crescendo 0,7% ao longo dos próximos anos.
“A recessão seria impulsionada principalmente por uma contração dos componentes da demanda doméstica privada devido ao aperto das condições financeiras”, destacou o relatório, que prevê a inflação de 2022 em 6% acima do teto da meta, de 5%. “A inflação no próximo ano deve ser impulsionada por alta inércia, a continuidade da retomada do setor de serviços, a implementação de aumentos de preços anteriormente adiados ou cancelados e inflação global mais alta”, afirmou o relatório.
De acordo com Solange Srour, a expectativa é que o processo desinflacionário esperado para o próximo ano demore por mais tempo. “A inércia inflacionária fará com que a inflação continue alta por um período mais prolongado e isso vai dificultar um custo de vida mais baixo em 2022”, ressaltou a economista.
A instituição prevê a taxa básica de juros (Selic) encerrando o ano em 12,25%, o que vai contribuir para o aumento do custo da dívida pública. O relatório apontou que a aceleração da inflação e a desaceleração das expectativas de inflação devem levar o Banco Central a manter o aumento das taxas de juros no meses seguintes. A flexibilização da política monetária, provavelmente, ocorrerá apenas quando ficar mais claro que a inflação recuar e ficar mais próximo do teto da meta, no fim de 2022.
Riscos fiscais
O estudo do Credit aponta deterioração do quadro fiscal, especialmente após as mudanças no teto de gastos previstas na PEC dos Precatórios, que antecipou alteração na metodologia para ampliar o aumento dos gastos públicos. “Não esperamos qualquer avanço no processo de consolidação fiscal, em 2022, devido ao processo de eleição presidencial. Além disso, as altas taxas de desemprego e inflação, bem como uma recessão em ano eleitoral pode levar o governo a aumentar ainda mais os gastos em 2022. As discussões sobre as reformas devem ser retomadas apenas em 2023 com a nova administração”, informou o estudo.
A mudança na última âncora fiscal vigente, segundo o estudo, vai ajudar acelerar o ritmo de aumento da dívida pública bruta. Neste ano, o banco prevê que a dívida pública bruta ficará em 81,7% do PIB, neste ano, abaixo dos 88,7% de 2020, mas pode chegar a 100% do PIB, em 2028, em uma conjuntura desse novo teto de gastos, baixo crescimento, e com uma taxa de juros real de 4% ao ano.
“O aumento das taxas de juros neutras dificultará fortemente a estabilização da dívida bruta na década atual. Com taxas reais superior a 4,0%, como prevalecia no período que antecedeu o teto de gastos, a dinâmica da dívida bruta não deve estabilizar até 2030″, destacou o documento que também apontou que, pelos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida pública bruta do Brasil é a maior entre as economias emergentes e está acima da média estimada para este ano, de 59% do PIB.