Correio Econômico: Um país à deriva e sem perspectivas

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A primeira semana de campanha à Presidência da República deixou claro que os candidatos estão mais preocupados em criar polêmicas do que em apresentar propostas para um Brasil melhor. Não por acaso, nenhum dos postulantes ao cargo mais importante do país consegue mobilizar os eleitores, que continuam céticos quanto à capacidade de todos eles de tirarem o país das graves crises política, ética e econômica, que insistem em nos atormentar.

As primeiras pesquisas apontam, em média, que três em cada 10 eleitores votarão em branco ou anularão os votos. Outra boa parcela insiste em apontar o ex-presidente Lula, que está preso por corrupção e lavagem de dinheiro e será barrado pela Lei da Ficha Limpa, como o preferido para comandar o país a partir de 2019. É o retrato cruel do quanto os brasileiros estão descrentes em relação ao futuro do Brasil, que sofre com o desemprego, a violência e a falta de educação.

Nesse quadro desolador, o país fica à mercê do sobe e desce do mercado financeiro, que só mina a confiança dos agentes econômicos e empurra o crescimento da atividade para baixo. Com o dólar roçando os R$ 4, cotação que pode ser atingida hoje, o Banco Central será obrigado a sair da zona de conforto e a fazer intervenções no câmbio. Mesmo com o fraco desempenho da economia, um dólar alto, fora dos eixos, sempre é uma ameaça para a inflação.

Os investidores, por sinal, jogaram a toalha em relação ao candidato que escolheram apoiar, devido ao compromisso com reformas, como a da Previdência Social. Na visão deles, Geraldo Alckmin, do PSDB, não conseguirá decolar, a despeito de todas as alianças fechadas para lhe garantir o maior tempo nas propagandas de rádio e tevê. Está se consolidando a aposta de que o segundo turno da disputa presidencial será entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT).

Perigo dos extremos

Fosse uma campanha mais longa, os donos do dinheiro ainda forçariam a barra em torno da candidatura de Alckmin. Mas o tempo curto e a falta de entusiasmo dos eleitores reduzem, drasticamente, as chances de o tucano disparar, a ponto de garantir uma vaga no segundo turno. O jeito será criar turbulências suficientes nos mercados, a fim de alardearem os riscos que o país correrá ao optar por dois extremos. Não será uma travessia fácil até a decisão nas urnas.

A semana, por sinal, será pródiga para os que lucram com as incertezas. Outras pesquisas eleitorais estão por vir, dando munição de sobra para o pessimismo. “Será uma decepção atrás da outra”, diz um executivo de um grande banco estrangeiro. “A disputa final está se desenhando entre a extrema direita e a esquerda radical. Isso não será bom para o país, qualquer que seja o vencedor. O Brasil precisa de consenso. E não veremos isso tão cedo no próximo ano”, acrescenta.

Para quem acompanha o dia a dia da economia, o sentimento é de que o ano de 2018 já pode ser dado como perdido. A produção e o consumo continuarão fracos e o desemprego permanecerá castigando os brasileiros. “Trata-se de um quadro dramático, sobretudo se levarmos em conta que, no início do ano, havia a perspectiva de o Brasil crescer 3% ou mais, criando pelo menos 1 milhão de empregos com carteira assinada. Hoje, estamos tentando juntar os cacos, evitando que o barco afunde de vez”, afirma um integrante da equipe econômica.

É nesse contexto, de flerte com o caos, que os brasileiros vão definir o futuro do país em outubro próximo. Os candidatos à Presidência preferem ignorar a gravidade da situação. Transitam na superficialidade dos problemas. Não será surpresa se, quando as propagandas na tevê começarem, um ou outro mal-intencionado se apresentar como salvador da pátria, ostentando um discurso populista que sempre gruda nos ouvidos dos incautos. Marqueteiros, infelizmente, conseguem fazer milagres, mesmo que isso signifique empurrar o país para a beira do abismo.

Brasília, 06h40min

Vicente Nunes