Correio Econômico: Um candidato para chamar de seu

Publicado em Economia

Uma leva de integrantes do mercado financeiro tem desembarcado diariamente em Brasília para tentar mapear o que pode ser a disputa pela Presidência da República em outubro próximo. A grande ansiedade dos analistas é em relação ao candidato que terá a chancela do Palácio do Planalto e que discurso o escolhido vai difundir. O fato de hoje não haver um representante forte na centro-direita incomoda os donos do dinheiro. Vários nomes estão na roda, mas nenhum empolga o eleitorado. Teme-se que, mesmo sem Lula na disputa, a esquerda consiga se unir com força e sair vencedora das urnas.

Nas conversas com os analistas, gente graúda tem procurado acalmar os ânimos. O argumento mais usado é o de que é cedo para se prever qualquer resultado nas eleições. A corrida ao Palácio do Planalto está apenas no começo. Ainda falta um mês para a desincompatibilização de membros do governo que queiram disputar o pleito. Isso vale, sobretudo, para o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que está em busca de um partido que o acolha. Sua atual legenda, o PSD, já o descartou como presidenciável. O MDB de Michel Temer está longe de fechar consenso sobre o assunto.

 

A visão que ministros e assessores muito próximos do presidente têm passado aos integrantes do mercado é a de que o governo vai trabalhar pesado para ter um candidato viável, capaz de atrair a maioria do eleitorado. A construção dessa candidatura será feita pessoalmente por Temer, que não descarta concorrer à reeleição. “Do nosso lado, não há amadores. Todos têm egos, mas todos têm a compreensão de que não podemos ir para a guerra já sabendo que vamos perder. Chegamos ao poder e não abriremos mão dele facilmente”, diz um ministro com assento no Planalto.

 

Trajetória explosiva

 

Por trás de toda a movimentação do mercado na capital do país está a preocupação com os rumos do ajuste fiscal. Não há, no entender dos especialistas, qualquer possibilidade de a economia crescer com mais força nos próximos anos se não houver uma arrumação definitiva das contas públicas. Temer conseguiu estancar a sangria das finanças federais, mas a dívida pública continua crescendo e mantém sua trajetória explosiva. Há o risco, inclusive, de o governo cometer crime de responsabilidade fiscal ao descumprir a regra de ouro, que impede o pagamento de despesas correntes, como salários de servidores e aposentadorias.

 

Na avaliação dos analistas, o escolhido pelo Planalto para concorrer à Presidência da República, além de ter chances reais de vencer as eleições, precisa assumir um compromisso formal de que fará as reformas necessárias para que o país volte a ter contas equilibradas. Pelas projeções do mercado, na melhor das hipóteses, as finanças só sairão do vermelho em 2021. Ou seja, o governo registrará quase uma década de deficit, travando os investimentos públicos e reduzindo o potencial de crescimento da economia. Ante esse quadro, é difícil fazer planos para o futuro.

 

Se dependesse dos donos do dinheiro, Temer deveria sair logo do jogo eleitoral e forçar o MDB a lançar um candidato capaz de construir uma ampla aliança. O presidente, que ostenta os piores índices de popularidade da história, continua colecionando reveses na Justiça. Não bastasse a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, ter pedido ao Supremo Tribunal Federal (STF) a inclusão de Temer nas investigações sobre a corrupção comandada pela Odebrecht, agora, o ministro Luiz Roberto Barroso, do STF, determinou a quebra do sigilo bancário do presidente por suspeitas em relação à Medida Provisória 595, a MP dos Portos, que teria beneficiado a empresa Rodrimar.

 

Ciro, o viável

 

“Se Temer acredita que vai melhorar a popularidade por causa da intervenção federal do Rio, pode se preparar para a decepção. Ele ainda sofrerá muito com a Justiça”, afirma um analista do mercado financeiro que conversou recentemente com três ministros. Para ele, quanto antes os partidos de centro-direita se unirem em torno de uma candidatura viável, maiores serão as chances de vitória nas eleições de outubro. “A esquerda está pronta para fazer a parte dela. Se Lula realmente for proibido de concorrer às eleições, muitos votos vão migrar para Ciro Gomes (PDT). Ele é, sim, um candidato muito viável”, acrescenta.

 

A romaria a Brasília deve se intensificar nas próximas semanas. Os donos do dinheiro vão ampliar a pressão para que um candidato reformista competitivo seja uma realidade. Entre Henrique Meirelles, Rodrigo Maia ou Geraldo Alckmin, o que realmente importa é a capacidade de sair vencedor das urnas. Hoje, porém, tal hipótese ainda é remota, para desespero do mercado.

 

Brasília, 06h20min