Em meio às intensas negociações do governo para garantir o apoio à reforma da Previdência Social, o Banco Central engrossou o discurso do presidente Michel Temer de que o momento é de consolidar as conquistas na economia. Com a inflação acumulada em 12 meses abaixo de 3%, o piso da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), a instituição reduziu a taxa básica de juros (Selic) para 7% ao ano, o menor nível da história, e a perspectiva dos especialistas é de que o indicador cairá até 6,5% nas próximas duas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) em 2018.
Na avaliação de Temer, os partidos da base aliada precisam entender que seu projeto de governo está dando certo. Mas, para continuar além de 2019, necessita ter a segurança proporcionada pela reforma da Previdência. Se o Congresso der o aval às mudanças no sistema de aposentadorias, alega o presidente, os investimentos produtivos vão voltar e o país conseguirá reduzir o desemprego dos atuais 12% para algo entre 8% e 9% ainda no primeiro semestre do próximo ano. A reforma, acrescenta Temer, permitirá ao BC manter os juros baixos por um longo período, pois terá a garantia de que as contas públicas serão saneadas e de que o risco de o Brasil dar calote será afastado de vez.
Temer explicou todos esses argumentos no almoço que teve no domingo com presidentes dos partidos que apoiam o governo. Foi explícito: num quadro de normalidade, unidas, as legendas que lhe dão sustentação terão condições de eleger pelo menos 300 deputados nas próximas eleições. Com esse contingente, será maioria na Câmara, podendo usufruir dos projetos que a máquina pública tocará, já que, com a economia trazida pela reforma, retomará a capacidade de investimentos. Sem a reforma, o país vai desandar, a oposição ganhará musculatura e boa parte dos atuais parlamentares não se reelegerá.
Dos partidos da base, reconhece o Planalto, os dois que ainda provocam apreensão são o PSD, do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, porque um dos líderes da legenda é casado com uma procuradora que é totalmente contrária à reforma, e o PR, que cobra muito mais espaço no governo. De nada, porém, adiantará a união dos partidos se o PSDB ficar de fora do acordo pró-mudanças no regime previdenciário. O Planalto precisa de, no mínimo, 35 votos favoráveis dos tucanos. “Temos dito que a continuidade do projeto que está dando certo passa pela reforma da Previdência. Então, temos que nos unir para preservá-lo. Não podemos entregá-lo de mão beijada para a oposição”, diz um integrante do Planalto.
Privilégios
Do ponto de vista econômico, o governo tem sido muito ajudado pelas ótimas condições do campo. A produção agrícola recorde fez a inflação, que encostou nos 11% em 2015, desabar. Estima-se que os preços dos alimentos tenham tido a maior queda em quase 40 anos. O recuo da inflação permitiu um acréscimo de quase R$ 8 bilhões na renda das famílias. Se esse ganho for somado à redução dos juros e às liberações das contas inativas do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) e do PIS e do Pasep, o reforço no caixa dos lares passará de R$ 150 bilhões até o fim de 2018. O governo tem plena convicção de que essa bolada ajudará a difundir a sensação de bem-estar na população, em especial, na mais pobre.
O Planalto, inclusive, acredita que as conquistas, mesmo que lentas, da economia já estão ajudando a derrubar a percepção negativa que as pessoas têm da reforma da Previdência. Também está contribuindo para a redução da resistência da população à propaganda maciça contra os privilégios dos servidores públicos. O governo conseguiu abrir um buraco no discurso do funcionalismo contra a reforma. Mostrou que a gritaria contrária às mudanças está apenas querendo manter regalias que a grande maioria dos trabalhadores não tem.
O governo ainda não quer cantar vitória. Mas, pelos corredores do Planalto, a sensação é de que a aprovação da reforma ficou bem mais perto. Bom para os candidatos à eleição de 2018, que estarão livres desse desgastante debate ao longo da campanha. Bom, sobretudo, para o país.
Brasília, 06h38min