Ainda não há motivos para euforia, mas o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) no terceiro trimestre do ano — aumento de minguado 0,1% — é um sinal claro de que a retomada da atividade produtiva está se consolidando. Sem estripulias na condução da política econômica, o governo conseguiu pavimentar a recuperação do consumo e, ao que tudo indica, dos investimentos. Os próximos dois trimestres, no entanto, serão decisivos para indicar se realmente o país tirou os dois pés do atoleiro no qual Dilma Rousseff o meteu. Não se pode esquecer que, entre 2014 e 2016, o PIB desabou mais de 8%.
A recuperação da economia será lenta e gradual. Ao contrário de outras recessões, quando a retomada se dava de forma mais rápida e vigorosa, há questões estruturais que impedem um impulso maior da atividade. Com rombos fiscais monstruosos — apenas neste e no próximo ano, serão R$ 318 bilhões de deficit —, o governo está incapacitado de ajudar a máquina a girar. Nem mesmo investimentos em infraestrutura, vitais para dar competitividade à economia, estão sendo tocados. O Brasil caminha com pernas mancas. Curar as fissuras abertas nos últimos anos levará tempo e exigirá paciência.
Apesar do otimismo exalado pelo governo em relação ao futuro, há muito a ser feito, a começar pela reforma da Previdência Social. Quanto mais as mudanças no sistema de aposentadoria forem adiadas, menor será a confiança dos agentes econômicos. Da forma como os regimes público e privado estão estruturados, os cofres federais entrarão em colapso brevemente. Mesmo remota, está no horizonte dos investidores a possibilidade de o Brasil dar calote na dívida pública. Quando incluídos os juros da dívida, o deficit público encosta nos 10% do PIB. Não há país que aguente isso por muito tempo.
Não bastasse a gravíssima situação fiscal, o Brasil está caminhando para uma das mais complicadas eleições presidenciais de sua história. Há um desencanto geral da população com os políticos tradicionais. Dois candidatos extremistas, com seus discursos populistas, lideram as pesquisas de intenção de voto. Os escândalos de corrupção continuam dominando o noticiário. O risco de surgir um salvador da pátria vendendo promessas fáceis é enorme. Tudo isso deixa o quadro muito nebuloso. É quase impossível traçar um cenário preciso do que pode ocorrer a partir de 2019.
Todo cuidado é pouco
Felizmente, as bases que vêm sustentando o crescimento estão preservadas. A inflação baixa, em torno de 3%, abriu espaço no orçamento das famílias. De outubro do ano passado até agora, o poder de compra do salário mínimo aumentou cerca de 50%, pelos cálculos do Banco Central. A taxa básica de juros (Selic) caiu, no mesmo período, de 14,25% para 7,50% ao ano, deve ceder para 7% na próxima semana e, com o ritmo lento de recuperação da economia, tende a recuar pelo menos até 6,75% em janeiro do próximo ano. Já o desemprego, que superou os 14%, diminuiu quase dois pontos percentuais.
A inflação em baixa ajuda, sobretudo, os mais pobres. As taxas de juros menores impulsionam o crédito e estimulam os investimentos produtivos. Mais gente empregada amplia o consumo. Esse contexto favorável ganha força com a supersafra agrícola, que derrubou os preços dos alimentos. Não fossem a grave crise política e as incertezas trazidas pelas eleições presidenciais, diante de fatos tão positivos, certamente os agentes econômicos estariam mais confortáveis para ampliar as apostas na retomada do crescimento. É o custo a ser pago quando se elegem governantes incompetentes, como Dilma.
Os eleitores, por sinal, deveriam levar em conta esse triste histórico da pior recessão da história, que desempregou mais de 14 milhões de pessoas e empurrou milhões novamente para a pobreza, na hora de depositar os votos nas urnas. Se o país errar de novo na escolha de seus governantes, o pouco que se avançou nos últimos meses vai se perder por completo. Não há mais espaço para aventuras. O Brasil já perdeu tempo demais. O momento é de preservar conquistas, não de destruí-las.
Brasília, 06h23min