O Banco Central decidiu intervir no câmbio para segurar o dólar, mas, por mais poderoso que se sinta, ao estar sentado sobre reservas internacionais de US$ 380 bilhões, tem limites para sua atuação. Por isso, acredita o economista-chefe do banco suíço UBS, Tony Volpon, dependendo da força da alta da moeda norte-americana, o BC será, sim, obrigado a elevar a taxa básica de juros (Selic), que está em 6,50% ao ano.
Na avaliação de Volpon, neste momento, com a inflação acumulada em 12 meses abaixo de 3%, o piso da meta definida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o BC tem espaço suficiente para aceitar uma valorização do dólar. Mas não pode conduzir a ferro e fogo a visão de que o câmbio no Brasil é flutuante e deve absorver choques de todas as naturezas. Essa tese, por sinal, vem sendo contestada por economistas de peso no mercado internacional, como Helene Rey, da London School of Economics (LSE), e Hyun-Song Shin, do Banco de Compensações Internacionais (BIS), o BC dos bancos centrais.
Para esses pesquisadores, regimes de câmbio flutuante não isolam os países dos efeitos de mudanças nas condições de liquidez global. Tanto que bastou o Federal Reserve (Fed), o Banco Central dos Estados Unidos, indicar que poderia subir os juros além do previsto para que os mercados entrassem em parafuso e moedas de países emergentes como Brasil, Argentina e Turquia desabassem em relação ao dólar.
Volpon acredita que, neste momento, o BC ainda tem força para manter os juros inalterados, pois, realmente, a economia está muito fraca e o desemprego, elevadíssimo. Também não seria conveniente, no entender dele, a Selic subir antes das eleições. Nada disso, porém, poderá ser empecilho para a autoridade monetária se a inflação se mostrar mais forte do que o projetado. Nesse caso, o BC terá que agir de forma robusta. Aceitar valorização excessiva do dólar sem mexer nos juros poderá ser um erro que custará caro ao país mais à frente.
Ambiente hostil
Por mais que o BC tente passar uma imagem de tranquilidade, a situação é dramática. O governo está desacreditado, o crescimento desabou, a ponto de vários economistas estarem projetando avanço de apenas 1% para o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano, e o desemprego deve subir, com alta probabilidade de retornar aos 14%. Esse ambiente hostil se agiganta diante das incertezas políticas, já que os candidatos que lideram as pesquisas de intenção de votos não têm compromissos com o ajuste fiscal necessário para evitar a explosão da dívida pública, que caminha para 80% do PIB.
“Há, ainda, a questão externa”, alerta Volpon. A perspectiva de alta mais expressiva dos juros nos Estados Unidos está afastando os investidores das nações em desenvolvimento. Para continuar injetando recursos nesses países, os estrangeiros exigem um prêmio maior de risco. Isso se dá por meio da alta do dólar, pela elevação dos juros ou pela queda expressiva nas bolsas de valores, barateando os preços das ações. “Como a percepção de que o risco brasileiro aumentou, a consequência óbvia é de que os investidores querem um prêmio maior, ou seja, descontos nos ativos”, acrescenta.
Nesse contexto, ressalta Volpon, que foi diretor de Assuntos Internacionais do BC, a autoridade monetária poderá escolher entre mais ou menos juros e alta maior ou menor do dólar. “No caso atual do Brasil, com a inflação baixa, o Banco Central deve optar por um dólar mais caro e menos juros, em contraste com o que se viu na Argentina. Naquele país, faz sentido escolher mais juros, porque a inflação é mais alta”, explica. “Vamos ver até onde o BC está disposto a ir.”
Dedos cruzados
Volpon está certo de que o próximo presidente da República, independentemente de qual partido seja, assumirá com juros mais altos do que os observados hoje. Ele diz que, passadas as eleições, o BC se sentirá mais confortável para mexer na política monetária. A inflação já não está tão confortável. A maioria dos especialistas diz que é muito provável que o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) feche este ano acima de 4%, apontando para cima ao longo de 2019, quando o centro da meta será reduzido para 4,25%.
Portanto, que ninguém espere dias muito tranquilos daqui por diante. Na verdade, a tensão tenderá a aumentar, sobretudo se, depois de consolidadas as candidaturas ao Palácio do Planalto, em agosto, nenhuma que atenda o perfil do mercado conseguir decolar. Muita gente boa de bancos e corretoras continua vendo o dólar cotado a R$ 4, apesar das intervenções do Banco Central, com chances de superar os R$ 5 diante de uma final entre Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT). Os investidores cruzam os dedos quando se deparam com tal possibilidade. Mas sabem que ela é mais real do que mostram, atualmente, as pesquisas de intenção de votos.
Brasília, 06h44