Num país com as complexidades do Brasil, mesmo um cenário tão favorável para inflação e juros não é motivo de otimismo. O histórico recente mostra que um presidente voluntarioso, que acredita ter as respostas para todos os males, pode pôr tudo a perder. Dilma Rousseff, logo depois de tomar posse, simplesmente desmontou todo o arcabouço econômico que permitiu a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, fazer o mais amplo programa social do país. Ela acreditou que um pouco mais de inflação resultaria em crescimento maior da economia, não se furtou em destruir as contas públicas e cismou em controlar o câmbio. Esses movimentos equivocados foram batizados de nova matriz econômica.
O resultado das decisões de Dilma todo mundo sabe: uma das recessões mais severas da história e mais de 13 milhões de desempregados. É justamente o risco de esses erros se repetirem que tem deixado os agentes econômicos em estado de alerta. A manutenção da estabilidade dos preços e dos juros é fundamental para que o país possa enfrentar seus graves problemas. O baixo crescimento econômico fez crescer novamente as desigualdades entre ricos e pobres, incentivando a violência. Os consecutivos rombos nas finanças federais travaram os investimentos em saúde, educação, segurança e infraestrutura. Temos um Estado paralisado pela burocracia, pela ineficiência e pela corrupção.
Peso das corporações
A expectativa é de que, com a campanha nas ruas, fique mais claro para os eleitores quem são e o que realmente pensam os candidatos à Presidência da República. Hoje, a maioria deles é uma incógnita. Os discursos são vazios e descompromissados de projetos que realmente tirem o Brasil do atoleiro. Por isso, o grande número de cidadãos indecisos. Muitos se perguntam em quem votar em outubro, mas não têm uma resposta clara, satisfatória. Essa falta de compromisso dos postulantes ao Planalto com a verdade só alimenta a desconfiança que paralisa o país.
Pelo que se viu até agora, mesmo os candidatos apoiados pelo mercado ainda não tiveram a coragem de tocar em temas considerados tabus, como a reforma da Previdência, mais do que necessária para controlar as despesas do governo e para permitir a volta dos investimentos em obras que vão pavimentar o crescimento. Nenhum deles também se comprometeu em enfrentar as corporações, especialmente a do funcionalismo público, que acreditam que o Tesouro Nacional é um saco sem fundo para bancar privilégios. Sem o enfrentamento dessas questões, os debates durante a campanha serão vazios, ficarão na periferia dos problemas que tanto afligem o país. Todos perderão.
Brasília, 06h05min