ANTONIO TEMÓTEO
Após semanas de incerteza e pressão para que o Banco Central (BC) elevasse a taxa básica de juros (Selic), o mercado caiu na real. Os juros futuros, que chegaram a precificar 60% de probabilidade de alta de 0,5 ponto percentual da Selic, passaram a apontar ontem 75% de chance de manutenção da taxa em 6,5% ao ano. Ficou claro que um aperto nos juros agora traria mais prejuízos do que benefícios para a economia brasileira, que ainda patina para voltar a crescer.
As pressões para alta de juros ocorreram em meio à valorização do dólar e às incertezas eleitorais. Coube à equipe de Ilan Goldfajn intervir no mercado, por meio da venda de contratos de swap cambial, e sinalizar que trabalha de acordo com o regime de metas de inflação. Assim, com as expectativas para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ancoradas e abaixo da meta de 4,5%, não faria sentido elevar a Selic.
O economista-chefe do Banco Fibra, Cristiano Oliveira, explica que parte do encarecimento do dólar decorre da valorização da moeda estrangeira no mercado global, porém — principalmente nos últimos dias —, as incertezas quanto ao resultado das eleições também têm contribuído para a perda de valor do real. Ele detalha que isso gera riscos para a trajetória futura da inflação, com repasse da desvalorização cambial para os preços da economia.
Nesse caso, explica Oliveira, caberia à autoridade monetária combater apenas os efeitos secundários da depreciação cambial, e não os efeitos primários. Ele ressalta que, em um contexto de elevada ociosidade da economia, o repasse cambial tende a ser mitigado. “O BC tem reiterado que a política monetária é separada da política cambial e que não há relação mecânica entre as duas. Assim, vemos o Copom mantendo o arcabouço do sistema de metas, que responde apenas aos desvios da inflação à trajetória esperada e aos desvios do produto com relação ao produto de longo prazo”, destaca.
Perspectivas
O economista-chefe do Banco Fibra avalia que a Selic permanecerá em 6,5% na reunião desta quarta-feira (20/06), mas reconhece que os riscos inflacionários se intensificaram desde a última reunião do colegiado. “Não descartamos uma elevação da Selic ainda em 2018, mas somente se uma depreciação cambial ou algum outro tipo de choque for forte o suficiente para afetar as expectativas para a inflação no horizonte relevante da política monetária”, diz.
Para ele, esse “choque” poderia vir da falta de credibilidade de um futuro banqueiro central escolhido por um candidato eleito que não seja comprometido com o regime de metas de inflação. “Nesse caso, a desancoragem das expectativas exigiria uma resposta imediata dos atuais membros do Copom. Assim, acreditamos que o Copom poderá endurecer moderadamente seu discurso, não descartando a possibilidade de elevação da taxa de juros ainda em 2018 se as expectativas para a inflação forem impactadas pela depreciação cambial”, afirma.
Brasília, 06h42min